quinta-feira, 30 de abril de 2009

IN MEDIUM VIRTUS


A tal da idade madura, onde fui incluído compulsoriamente, carrega consigo fartas inconveniências e raras vantagens, a maioria delas envolvendo filas e estacionamentos ( nem sempre respeitados pelos jovens ). A pior adversidade, ao que vejo, é a existência de um futuro não muito espaçoso. Quando se é moço, todas as frustrações, todos os erros, as decepções, o que não deu certo, nada existe de mal que o futuro não corrija. Depois de uma certa idade, por mais otimista que se seja, o futuro precisa ser hoje ou, no máximo, amanhã, pois não há mais muito tempo a perder, como antes.

Entre as escassas vantagens, acredito presente uma maior capacidade de ponderação, de se conseguir enxergar as coisas sem a paixão desmedida dos jovens, sempre resvalando para o enganoso caminho do radicalismo, onde só há dois lados, um deles "todo bom" e o outro "todo ruim" . Para o moço, a vida se resume numa espécie de Fla X Flu carioca, como se não existissem além deles o Vasco, o Botafogo e até o Ameriquinha, por que não ? então, que me perdoem os jovens, que costumam pensar assim : ou você é a favor de Hitler ou de Stalin, ou de Allende ou de Pinochet, e por aí seguem, sem se darem conta que também "existe vida" entre os extremos.

Lembro que o meu pai costumava dizer que o homem ( na época, ele se referia mesmo ao homem, sexo masculino, com as responsabilidades que então lhe eram cobradas pela sociedade ) tinha três oportunidades de amadurecer : quando se formava, quando se casava e quando nascia o seu primeiro filho. A essas, eu acrescento mais uma : quando se deixa de ser jovem.

Alguns, no entanto, carregam consigo uma visão apaixonada até o fim de suas vidas. Quando gostam de alguém, sai da frente, não encontram na pessoa nenhum traço que não seja virtuoso. E fazem discursos apoteóticos, sobem em caixotes e pregam para o vazio, quase como Napoleões de hospício. Seus pontos de vista são defendidos com o mesmo entusiasmo de torcedores encontrados em arquibancadas de estádios de futebol. Suas visões são irremovíveis e impermeáveis a qualquer espécie de argumento. O gostar é sempre o incondicional . E, para alimentar as contendas, eles desejam encontrar interlocutores munidos do mesmo passionalismo, só que posicionados do lado oposto, para que o tiroteio verbal possa ganhar em intensidade.

Aí, não adianta você querer ponderar que a sua visão é crítica e que não há nada ou ninguém que não mereça reparos, a partir e principalmente de nós mesmos. Os que são movidos à base de paixão não se conformam. Eles acham que você, se faz alguma restrição ao "lado dele" é por estar "do outro lado" e a sua tentativa de se mostrar imparcial nada mais significa que uma engenhosa "tática de ataque".

Quando esses "apaixonados" são pessoas que não nos dizem muito, a solução é simples: Evitá-los. Caso contrário, é necessário criar "cláusulas de barreira" às questões, digamos, mais "polêmicas". O grande risco é que diálogos com pessoas queridas acabem resvalando para temas próprios de "conversas de elevador" , do tipo "como está quente", "como esfriou", "e essa chuva que não para", "o trânsito só piora", "e essa agora da gripe suína, hein, será que bate aqui ? ! ", etc., etc., etc.