terça-feira, 7 de abril de 2009

O ABORTO


Jantando com um amigo, ele lançou um desafio : escreva sobre o aborto ! Eu tentei cair fora da responsabilidade que representa abordar tema tão delicado e controvertido, me declarando incompetente, isto é, sem o conhecimento específico necessário para opinar com segurança sobre uma decisão que envolve a interrupção de uma vida .

Por coincidência ouvi hoje cedo uma entrevista do Professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Dr. Fernando Lefèvre, sobre a chamada " pílula do dia seguinte " .

O renomado Professor foi extremamente cuidadoso ao falar sobre essa pílula, inclusive e principalmente com receio de que a propagação do seu uso viesse a fazer com que alguns pudessem considerar menos imperativa a proteção à saúde pelo uso de preservativos que, além da gravidez , previne o contágio de doenças sexualmente transmissíveis.

Esclareceu o Professor Lefèvre que a "pílula do dia seguinte" não é abortiva, como costumam imaginar os pouco conhecedores dos seus efeitos. A tal pílula, na verdade, inibe a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, daí a importancia de ser utilizada o mais próximamente possível do momento em que se consumou a relação sexual.

Com esses esclarecimentos, me senti mais à vontade para expressar o meu ponto de vista contrário ao aborto. Mas, há considerações a serem feitas que julgo de fundamental relevância : me refiro às situações mais comuns, como um "acidente" com o preservativo, uma relação quase fortúita, um "esquecimento", etc. Para esses casos, há a alternativa da "pílula do dia seguinte'', que não existe para funcionar apenas em situações de violência sexual.

Mas deixar a "coisa como está, para ver como é que fica", é injustificável para mim. A mulher preferir ser "otimista" e arriscar uma gravidez indesejável para depois acabar optando pelo aborto, não se admite com os recursos hoje disponíveis. Penso que, se houve a concepção, há vida e quanto mais recente o embrião, menor a sua capacidade de defesa e de proteção, que deveria partir da sua própria mãe.

Não entendo que a vida do feto pertença à sua mãe e ela possa decidir, à sua conveniência, se aquele ser humano que gerou e abriga terá ou não direito à vida. Não atiro pedras em quem opta por "saídas" mais práticas, mas me reservo o direito de não concordar com esse tipo de "solução".
Guardo sérios questionamentos face a casos em que são reveladas anomalias profundas no feto ou quando a gestação coloca em grave risco a saúde da mãe. As decisões nesses casos extrapolam o mero aspecto da conveniência, atingindo questões realmente conflituosas.

Mas, há de se admirar as mulheres que enfrentam uma gravidez de risco por não admitirem a opção mais simples. A mãe da minha mulher, ao ter a primeira filha, chegou a estar desenganada pelos médicos. Havendo sobrevivido, uma segunda gestação lhe foi definitivamente vetada mas, aconteceu. Um aborto quase lhe foi imposto pelos médicos, inclusive sob o argumento que ela já teria uma filha pequena para criar. E a minha sogra nem vacilou em seguir em frente na gestação, que acabou por ter um final feliz. Ela e milhões de mulheres que agiram dessa forma são para mim admiráveis, sem dúvida.

Por fim, devo dizer que tenho uma filha que trabalha em uma UTI prenatal e tenho dela o testemunho de quanto é admirável perceber e atuar junto aqueles pequenos e frágeis seres humanos na grande batalha que travam buscando a preservação da própria vida . E, me pergunto, a partir de quando se inicia esse processo ?