quarta-feira, 22 de abril de 2009

A PAIXÃO ESTÁ ACABANDO ?

Sou de um tempo que já se faz longe, é verdade. E não quero aqui cometer a imprudência de enveredar pelo perigoso caminho da sandice, própria de muitos coroas, querendo convencer aos jovens de que quando eram moços " as coisas eram muito melhores".

Mas, se já sou antigo na idade, sempre fui mais antigo ainda no que se refere à maneira como elaborava o amor. Recebi enorme influência na minha formação, do grande Nelson Rodrigues, a quem muitos atribuiam, à minha época, equivocadamente, o conceito de "tarado," "pervertido"e outras babaquices do gênero. Nelson, ao contrário, era moralista e um incorrigível romântico e nas suas deliciosas histórias o amor era celebrado a cada linha, embora a paisagem da sociedade brasileira nas décadas de 40 e 50 tenha sido exposta de forma contundente, na série de crônicas " A Vida Como Ela É ".

No meu tempo de vestibular, lembro que havia no colégio uma senhora, com idade por volta de sessenta anos, que trabalhava na secretaria. Pois bem, essa senhora só se vestia de preto e a molecada fazia troça da esquisitice. Fiquei sabendo a razão : muito mocinha ainda, às vesperas do casamento, o seu noivo havia morrido e ela dedicou a vida a cultuar a memória daquele grande e insubstituível amor. A turma ria e eu achava lindo ( se um meu primo, excelente psicólogo, ler esse negócio vai perder noites de sono com a minha "piração" ) existir um amor capaz de resistir uma vida inteira, satisfazendo a alguém apenas como uma simples lembrança. Taí o que seria uma história verdadeiramente rodriguiana, ou a ficção se fazendo vida.

Mas vá lá que exista um tanto de exagero de minha parte em ver beleza nessas condutas ( patológicas, Dr. Domingos ? ) . Só que, nem tanto ao mar, nem tanto a terra, ou ao céu, o que preferirem. Não pode existir nada na vida que supere em intensidade a uma paixão. Você ter ao seu lado alguém que lhe faz o coração pulsar forte, cuja simples proximidade lhe provoca uma explosão química e o sonho de poder parar os relógios da vida, para viver para sempre uma daquelas situações em que nada, ninguém, ou nenhum lugar poderiam ser melhores ...

Eu creio que quem passou pela vida sem jamais ter desfrutado desse tipo de emoção, na verdade não conheceu o que é viver na sua plenitude.

Quando eu vejo as baladas de hoje em dia, com a garotada "ficando" com dez ou mais diferentes jovens tenho pena, não por preconceito ou pudor, mas por imaginar que o amor possa estar perdendo espaço na sociedade moderna. Na toada em que as coisas estão seguindo, logo fazer sexo poderá ser cumprir apenas mais uma das nossas necessidades fisiológicas, praticada com emoção semelhante a fazer xixi . Em absoluto, não vai aqui nenhuma restrição a praticar sexo, que o pratiquem sim, mas que experimentem fazê-lo com paixão. É muito melhor ...