segunda-feira, 6 de abril de 2009

" ÀS VEZES DÁ VONTADE ( SÓ VONTADE ) DE JOGAR A TOALHA "

Na primeira eleição direta para Presidente da República após um longo período de ditadura, foram para o segundo turno o Collor e o Lula . A minha tia Zelita se tornou uma collorida apaixonada, via na figura do jovem e boa pinta Fernando Collor o homem que poderia mudar os rumos do país : caçador de marajás, moderno, determinado, um tipo dedicado à família e patriota.
Já o Lula era visto por ela como uma espécie de incorporação do demônio, um barbudo analfabeto que ia tomar a poupança dos aposentados e obrigar a todos que tivessem um ou mais quartos sobrando em casa, a partilhá-los com favelados e desvalidos.

Eu, eleitor derrotado de Mário Covas já no primeiro turno, havia tomado conhecimento do péssimo currículo político de Collor, um até então obscuro governador de Alagoas que, de repente, havia projetado, via marketing, uma imagem de Indiana Jones Brasil afora. Um rapaz que falava outras línguas ( inclusive aquela do "duela a quien duela" ), elegante, bonito, viajado, rico, seria um grande sucesso aqui e no exterior.

Bem, mesmo não sendo petista ( na época nutria grande simpatia pelos tucanos ), eu havia concluído : entre Collor e Lula, fico com o Lula, seja lá o que Deus quiser ! E, o quanto discuti, o quanto desagradei a grande maioria dos familiares e amigos com a decisão ( acreditava que votar em branco ou anulá-lo era coisa de omisso, inconcebível ) . Mas, convencer a tia Zelita, nem pensar. Ela usava adesivos nos vidros do carro, tinha cartaz do Collor em casa, fazia campanha com os empregados, tudo no maior entusiasmo.

Veio a eleição e o Lula foi derrotado por conta do sequestro do Abílio Diniz ( vestiram a camisa do PT em um sequestrador ), da compra de uma ex-namorada do Lula que deu entrevista afirmando que ele queria obrigá-la a praticar um aborto e, por fim, pela edição do último debate feito pela Globo, mostrando um Collor altivo e um Lula acuado. Interessante é que ouvi o Lula dizendo recentemente que agradece a Deus por não ter sido eleito naquela ocasião. Já para mim, de lá para cá, ele ( ou terá sido eu ? ) só piorou, que o diga a sua fiel pitbull no Senado, a Dona Ideli Salvatti, que foi "rifada" da presidência da Comissão de Infraestrutura , sob os aupícios do "chefe", em favor de quem, de quem ? de Fernando Collor de Mello, para cumprir acordo com Renam Calheiros ( PMDB - AL ) no episódio da eleição de José Sarney ( PMDB - AP ) para a presidência do Senado ( todos gente "finíssima" ).

Voltando à tia Zelita : quando o Collor foi completamente desmascarado pelo irmão, Pedro, e a deplorável conduta de PC Farias se tornou pública, fui "cobrar a conta" da querida tia : " Viu, não lhe disse ? perguntei ". Ouvi então como resposta : " Vi, aprendi e daqui pra frente nunca mais voto em f.d.p. de político nenhum ! " .

Achei um horror aquela resposta. Renunciar ao voto representava para mim negar a própria cidadania. Foi o que disse à indignada Zelita, lhe passando um certo carão. Tínhamos que votar, ainda que fosse no " menos pior " . Era o que eu havia feito naquela eleição.

Hoje, porém, me vejo " pagando pela língua " . É quase certo que venhamos a ter disputando a próxima eleição presidencial a Dona Dilma e o José Serra. Nenhum dos dois, infelizmente, me desperta o mínimo entusiasmo. O Serra é o tipo de personalidade prepotente, arrogante, desagradável, sem nenhum carisma, obcecado pelos seus mecanismos de arrecadação, mas leniente quando se trata de ir atrás de "desvios" praticados pela tucanagem e entusiasta de passar a perna em velhinhos que sonham em receber seus direitos relativos a precatórios. Acho, aliás, que o Serra cultiva a sua antipatia como se fosse uma grife . É bem verdade que dele nunca ouvi falar em desonestidade pessoal ( eu disse que não ouvi falar, não significa nenhuma certeza, até mesmo pela pressão que exerce inibindo a instalação na Assembléia Legislativa de São Paulo de qualquer CPI - quem não se lembra da empresa francesa Alstom - que tenha por objetivo investigar possíveis irregularidades ocorridas em governos tucanos. O problema aqui no Brasil não é pagar imposto, é perceber o que é feito com o dinheiro dos impostos.

Já a Dona Dilma, além de muito parecida com o Serra em certos aspectos, pode significar 20 anos de PT comandando o país ( Lula 8 + Dona Dilma 4 + Lula 8 ), sempre colocando em prática os seus amplamente conhecidos métodos de " boa governança ". Nesse embalo, vão acabar durando mais que os Castro na Ilha, brincando de " bola com Lula, passa para Dona Dilma que devolve para Lula ... " .

Com tais candidatos, com os repetidos escândalos no Congresso, eu não mais recrimino, pelo contrário, passo a entender a sofrida decisão da minha tia. A gente começa a se sentir como sendo "otários" e coadjuvantes passivos deste grande, cínico e despudorado circo político. E, meu Deus, como os políticos estão ficando cada dia mais parecidos ! Os tucanos são, digamos, mais finos, mais bem educados, mais elegantes, mais pós-graduados. Os petistas, embora o poder e os cirurgiões lhes venham operando metarmofoses ( vide o casal presidencial, o capitão do time - Zé Dirceu - , e a própria D. Dilma ), ainda trazem marcas de sua origem " plebéia " e sindical. Eles estão discursando e temos a impressão de que, a qualquer momento, vão cuspir no chão . Mas, nas práticas, nas posturas, são exatamente iguais. A única diferença é "estar governo" ou "estar oposição".

Prometo a vocês que me vou empenhar ao máximo para no ano que vem não cair na imperdoável tentação de clicar a tecla ANULA. Já imagino a tia Zelita lá do céu, mandando um recado carinhoso para mim : " Viu, seu bobão ? " .