segunda-feira, 27 de abril de 2009

QUE ME PERDOEM POR HOJE OS QUE NÃO GOSTAM DE FUTEBOL

Hoje não tem jeito. Vou ter que falar de futebol. Eu que tantas vezes assisti ao Garrincha e Pelé jogando no Maracanã e ao Maradona em transmissões ao vivo pela TV, me vejo um apreciador do futebol-arte, hoje quase desaparecido dos gramados, em decorrência de um predominante estilo europeu de jogo, baseado num excepcional condicionamento físico dos atletas, que passaram a ser preparados para terem grande velocidade e força física, numa espécie de contra-ponto ao talento e a habilidade pessoal, principalmente de jogadores brasileiros e argentinos.

A tática adotada pelos treinadores brasileiros passou a ser " valorizar a posse da bola " ( enquanto o time está com a bola em seu poder não sofre gol ) e ficar trocando passes para trás ou para os lados, esperando que surja, quase num acaso, uma chance de fazer gol. Eu aprendi em criança que o objetivo do jogo de futebol é o gol . Mas não é o que pensam boa parte dos nossos mais destacados treinadores. O Carlos Alberto Parreira, por exemplo, campeão mundial com a seleção brasileira em 1994, faz questão de deixar claro o seu ponto de vista : " No futebol, o gol é apenas um detalhe ... ".

E o Parreira e os que acompanham os seus dogmas futebolísticos, argumentam com fatos : Em 1982, época do futebol virtuoso praticado pela seleção de Telê Santana, voltamos da Espanha de mãos abanando e lenços molhados de lágrimas, nada importando que o mundo inteiro se tenha rendido ao nosso belíssimo futebol . Para o cúmulo do azar, em 1986, novamente Telê Santana no comando, acabamos sendo eliminados num jogo com a França, em derrota sómente justificada pela ação do Sobrenatural de Almeida que às vezes, segundo Nelson Rodrigues, aprecia interferir nos que seriam "resultados justos", ou lógicos, de alguns jogos de futebol.

Pois bem, veio 1994 e, Parreira no comando, trouxemos o desejado "caneco", depois de uma campanha sofrível e uma final com a Itália, com 0 X 0 no tempo normal e na prorrogação, quando contamos com jogadores italianos pouco inspirados na cobrança das penalidades, o que acabou por decidir a Copa a nosso favor.

Pronto, foi a consagração definitiva do "estilo Parreira" sobre o "estilo Telê" , que passou a ser tido como uma espécie de "Belo Antônio" futebolístico.

Eu que não guardo a menor pretensão de entender de futebol, ao contrário dos muitos milhões de brasileiros capazes de expor durante horas seus conceitos táticos sobre o esporte, me considero apenas capaz de perceber e vibrar com jogadas belíssimas e finalizações idem, como aquelas que ontem assistimos em Vila Belmiro, tendo como autor o Ronaldo Fenômeno.

O segundo gol do Ronaldo, então, foi digno de ingressar com todos os méritos na galeria dos grandes gols da história do futebol. Nesse embalo, uns jogos a mais, uns quilinhos a menos, o Ronaldo vai, pela terceira vez em sua vida, dar a volta por cima e fazer trincar os dentes de todos ( eu à frente ) os que consideraram impossível que ele pudesse voltar a jogar em alto nível.

Para mim, o grande craque está "acima do bem e do mal" . Isto é, muito mais que eventuais predileções clubísticas, priorizo o bom futebol. Torcendo pelo Fluminense, cansei de aplaudir no velho Maracanã, os craques do Botafogo, do Santos, do Vasco de Roberto Dinamite e, por que negar, até mesmo do "inimigo" Flamengo, do grande Zico, que encheu de alegria os olhos de quem aprecia o futebol talentoso.

Assim é que foi muito bonito ver "o maior craque de todos os tempos", o nosso Rei Pelé, santista doente, aplaudir a obra-prima que foi o segundo gol do Ronaldo. Que o craque vá ganhando melhor condicionamento a cada jogo e possa continuar proporcionando, cada dia mais, momentos mágicos como aqueles de ontem à tarde.