quinta-feira, 23 de julho de 2009

VAMOS TOCAR O BARCO

Hoje, começo a escrever pela terceira vez o blog, pois está difícil não resvalar para o pessimismo, para a conhecida "deprê". Isto por conta de saber que uma pessoa muito querida, está com um problema de saúde que a vai levar a uma cirurgia, etc., etc., etc.

Mas, em homenagem a esse amigo que vem passando a sua vida inteira oferecendo a todos que têm o privilégio de, como eu, privar da sua convivência, as melhores lições de otimismo, de alegria e de nunca se deixar dobrar diante das adversidades, vou mudar o rumo da conversa em outro sentido, me permitindo apenas, lhe deixar aqui consignada uma mensagem de solidariedade em relação ao que, tenho certeza, será apenas "mais um" dos obstáculos que enfrentou com coragem e venceu. Toca o barco, meu irmão !

Indo de Seca à Meca, vou contar duas "aventuras" de outro amigo, Francisco, um dos meus personagens prediletos no campo das histórias pitorescas.

Francisco é uma pessoa abastada para os padrões da nossa sociedade. Mas, nem por isso, ou por isso mesmo, é incapaz de dizer desaforos a dinheiro. Certo dia, acorda entrevado, uma dor tremenda nas costas, que o deixava quase imobilizado. Alguém recomendou que fosse a um grande especialista, o melhor indicado dos médicos para solucionar o seu problema.

Alegando a urgência de solução requerida pelo sofrimento que lhe acometia, implorou à uma recepcionista da clínica, em telefonema, uma "janela" entre consultas, de forma que pudesse ser atendido no mesmo dia, nem lhe ocorrendo ali indagar quanto era a consulta. Impossibilitado de dirigir, a sua mulher o conduziu, desviando de todos os buracos, até o consultório médico. Ao chegarem, o Francisco percebeu que a clínica estava instalada em uma luxuosa mansão, o que já o deixou angustiado. Manobrista, tal e coisa, entraram na casa. O luxo da decoração, os quadros nas paredes e a forma impecável como se vestiam os funcionários da clínica, o fizeram aflito. Apresentou-se à uma das recepcionistas e ela solicitou ao casal que aguardasse, se acomodando num dos inúmeros e vistosos conjuntos de sofás e poltronas instalados no vasto ambiente.

Nisso, surge um sujeito trajado como se fosse o mais elegante dos garçons de todo o Rio de Janeiro, empurrando um carrinho que aparentava ser uma peça do século XV e, em sua plataforma, eram exibidas pratarias, louças da mais sofisticada qualidade, pacotinhos dos melhores chás ingleses, finos chocolates suíços e requintados sequilhos. Era demais para o Francisco. Fez sinal, chamando com o dedo a mulher, levantou-se como pôde e , disfarçando, foi saindo bem de fininho até pedir o seu carro ao manobrista . A consulta, naturalmente, foi para o espaço. Curou-o, doses maciças de Cataflan e repouso.

Havendo conhecido numa viagem de navio um casal de milionários paulistas, cada vez que vinham à São Paulo, Francisco e a mulher eram obsequiados pelos amigos com jantares nos melhores restaurantes e, alegando a sua condição de anfitriões, jamais permitiram que ele pagasse uma conta, embora procurasse encenar nesse sentido. Chega o dia em que, finalmente, para preocupação de Francisco, os amigos paulistas iriam passar um fim de semana no Rio . Era a hora de retribuir as gentilezas. Uma noite foi resolvida com um jantar em casa, jantar esse impecável, se diga de passagem. E a outra noite ? Francisco não se fez de rogado. Foram jantar no Copacabana Palace. So que, em vez de cartão de crédito, levou consigo cheque para pagar a conta. Um talão ? Não, um só. Sabe como é, assaltos, um perigo ...

Serviram-se do bom e do melhor, na gastronomia e nas bebidas. Veio a conta, salgada, naturalmente. O Francisco nem titubeia, começa a preencher o cheque e ... ERRA no seu preenchimento. E agora ? rasurar o cheque não era possível. O convidado, percebendo o seu embaraço, indagou o que estava acontecendo. O Francisco explicou e o milionário espichou um seu cartão de crédito e pagou a despesa. "Quero o número da conta e o seu banco para lhe remeter o dinheiro" . "Não, nem se preocupe, deixa isso para lá", respondeu o convidado . O Francisco me contou essa história, jurando que teria acontecido "um acidente". Só que, em se tratando da figura, jamais acreditarei na sua versão. Para mim, tudo não passou de um bem sucedido plano !