segunda-feira, 13 de julho de 2009

EXISTE UM ABSOLUTO COMPROMISSO DA IMPRENSA COM A VERDADE?

Durante muitos anos, militei na área habitacional. Não era incomum me deparar na imprensa com notícias absolutamente distorcidas, em relação a questões e fatos que eu conhecia de forma muito próxima, "por dever de ofício" . Ou seja, não podemos, sem o grave risco de incorrer em erro, acreditar integralmente no conteúdo e, principalmente, nas manchetes ou nos títulos de todas as matérias jornalísticas, como se elas expressassem sempre verdades inquestionáveis.

Por outro lado, se o elo que existe entre a gente e o que ocorre no mundo é representado pelo jornalismo, como fazer ? Nos alienamos inteiramente e "tapamos" os olhos e os ouvidos, numa alienação absoluta ? Não creio ser o mais adequado.

Daí, considero ser, no Código de Ética do jornalista, o seu mais importante aspecto, o compromisso com a verdade. Não me refiro, evidente, às questões opinativas ou subjetivas pois, aí, a pluralidade de pensamento fundamenta a própria essência da liberdade. Refiro-me a fatos concretos . Pela linha editorial do veículo, ou por questões de antipatia pessoal, ou para vender mais exemplares nas bancas, não me posso permitir uma manchete apregoando : "Deputado petista mata quatro jovens" . Nossa, você lê aquilo e fica perplexo : " Foi numa discussão ideológica ? ou, quem sabe, um crime político ? terá sido numa briga ? Tiros, facadas, socos e ponta-pés ? Que assassino terrível esse sujeito ! Aí, você começa a ler o texto, letrinha miúda, e constata que as mortes decorreram de um acidente de trânsito, onde o deputado petista que dirigia o veículo, na verdade, foi abalroado por uma carreta que atravessou o canteiro que dividia as pistas e, subitamente, atingiu o automóvel do parlamentar, vitimando quatro rapazes, amigos de seus filhos.

Bem, distorção tão extrema como esta, ainda não cheguei a ver, mas quase, já vi sim. E, é muito ruim, pois produz uma desagradável sensação de insegurança nos que apreciam se sentir bem informados. Acredito ? será verdade ? Há exagero na notícia ? E, como confirmar o conteúdo de um texto ? Procurando a mesma notícia em diferentes veículos ? Vá lá , ajuda, mas não é o suficiente. Até mesmo, em razão de determinadas notícias serem destaques em um único jornal, por exemplo.

Ontem, domingo, pego O Globo e vejo, em sua página frontal, uma enorme fotografia de um submarino, e a chamada ao lado : " País paga mais caro por submarinos " . Ora, penso eu, mais uma sacanagem , nem me espanto, tantas elas são. Aí, começa a notícia " O Brasil vai gastar 6,7 bilhões de euros num pacote que inclui a compra de cinco submarinos franceses, preço dez vezes maior do que o oferecido pela Alemanha, relata José Meirelles Passos. ( Permitam-me a observação, "preço DEZ vezes maior que o oferecido pela Alemanha ? Pera aí, no Brasil de hoje, se falassem em dez, vinte que seja, por cento de comissão, ou de corrupção, lamentavelmente não causaria espécie, mas DEZ VEZES MAIS ??? ) . Daí, segue a notícia : " No acordo, a França reafirma seu apoio ao Brasil por uma vaga no Conselho de Segurança da ONU " . ( Relevem este outro parenteses : " Cacilda, o Brasil está pagando 6 bilhões de euros por esse voto favorável da França ao nosso ingresso no Conselho de Segurança da ONU ? Esta é uma obsessão que vem do tempo do FHC e não alcanço bem o seu sentido, pois, "na hora da verdade", manda quem tem armamento nuclear em peso, ou já esqueceram que o Bush, como o deputado gaúcho, se lixou para a opinião pública mundial, para a ONU, o seu Conselho de Segurança e o escambau, na hora que resolveu invadir o Iraque ? E, quanta coisa boa poderia ser feita por aqui com 6 bilhões de Euros ... ) . Segue a notícia : " O governo do Brasil está prestes a adqurir da empresa estatal francesa ( Olha eu aí novamente : ao que eu sempre ouvi falar, as estatais, nas pessoas dos seus dirigentes, com honrosas exceções, costumam RECEBER propinas, não PAGAR ) DCNS ( Direction des Constructions Navales Services ) quatro submarinos convencionais, da classe Skorpène, mais o casco - um pouco maior - de uma quinta embarcação desse tipo, pagando dez vezes mais caro que uma oferta . ( Aí, já temos : o "custo do voto" da França e o casco " um pouco maior ", sei lá quanto custa o casco "um pouco" maior de um submarino ) . Continuemos : " Anteriormente, a empresa privada alemã HDW ( Howaldtswerk Deutsche Werft ) oferecera um pacote semelhante por um décimo do preço. A justificativa para o negócio com a França custar 6,7 bilhões de euros - contra 670 milhões de euros cobrados pela firma da Alemanha - é a de que o pacote incluirá a construção de um estaleiro e de uma base naval, na área de Itaguaí, no litoral do Rio de Janeiro " . ( Perdão, não entendo "pinicos" de submarinos, estaleiros e bases navais . Mas o negócio com a França e o proposto pela Alemanha, não são iguais, como sugeriu O Globo no título de sua matéria : os submarinos franceses são maiores, há um estaleiro e uma base naval no negócio, além do tal "compromisso de voto" . Bem, quanto custa isto, não sei, mas alguma "coisa" que não é pouca, deve custar. O "vai pagar dez vezes mais pelo mesmo objeto" é mentiroso, ou não é ? Mas a "forçada de barra" não termina por aí. Vai constar na transação a tão famosa "transferência de tecnologia" , objeto central de discussões, nessa portentosas operações e que, qualquer lorpa sabe, quando é aceita, não custa barato. O Globo ainda acusa a existência de uma "estratégia" montada para fugir à Lei de Licitações : o estaleiro e a base naval serão construídas pela empreiteira Odebrecht.

Defende-se o ministro Jobim : "Nós compraremos um pacote pronto - submarinos, transferência de tecnologia, estaleiro e base naval . Quem vai construir para a francesa DCNS, é problema dela, não nosso ".

Pois muito bem, não estou aqui para defender o ministro Jobim, o Ministério da Marinha, nem o governo Brasileiro. Vai rolar sacanagem no negócio ? Não sei, não duvido nada, mas não sei . A minha bronca é o Globo "titular" algo como : "O Governo vai pagar dez vezes mais por automóveis Zero Km. marca tal, modelo tal, equipamentos tais, que irá comprar para uso no serviço público " . Aí, você se dá ao trabalho de ler as letrinhas miúdas e vai vendo que "não é bem assim" , isso é péssimo, pois dá ao leitor o direito de passar a "confiar, desconfiando". E, não se trata de um caso isolado. Os melhores e mais reputados jornais têm esse hábito de torcer a verdade, para atingir os seus alvos. Gostaria de poder ler os jornais "ACREDITANDO" no que me contam, estou errado ?