quinta-feira, 9 de julho de 2009

DIZER NÃO É UMA ARTE!

Tenho um primo que, para mim, é, de fato, um irmão, que trabalhou longos anos em bancos, sempre se destacando pela dedicação, esforço e inteligência que dizem ser "marca registrada" da família Abreu ( o bobinho aqui também é Abreu, mas me aceitem como a exceção que confirma a regra ) . Pois bem, há muito tempo, e quando eu digo "muito tempo", põe tempo nisso, esse meu primo, Antônio, era gerente de uma importante agência de um grande e conceituado estabelecimento de crédito. E ele desabafou comigo, em meio a umas cervejas e acarajés, vendo o mar da querida Bahia : " Meu amigo, como é complicado dizer NÃO ! Quando você diz SIM, nem precisa falar mais nada. É SIM e pronto, o seu interlocutor já está todo satisfeito . Mas o NÃO, tem que ser acompanhado por longas e gentis explicações, até mesmo quando saltam aos olhos as razões da negativa . E, não raro, o autor do pleito ainda sai batendo os pés e dizendo desaforos, mesmo sabendo perfeitamente que um gerente bancário cumpre regras, muitas delas inflexíveis ".

Bem, graças a Deus, o meu primo foi, já faz muito, navegar em outros mares menos revoltos e hoje para ele, bancos e os banqueiros pertencem a um passado remoto.

Esse assunto me veio à cabeça por haver conversado ontem sobre este assunto - dizer não - , com objetividade, e, mais uma vez, constatar que, para mim, sempre foi complicado dizer NÃO e, talvez, pior ainda," levar " um NÃO no "focinho". Interessante, convivi muitos anos, na área comercial, com uma pessoa que era capaz de ouvir, impassível, sem emitir o menor sinal de estar ou não "gostando" da longa história, história esta naturalmente envolvendo um pleito, um pedido, um apelo, enfim, qualquer coisa do genero, para, na hora da pergunta final, responder com um único, desacompanhado e solene NÃO ! . Esse estilo, com certeza, é muito eficiente e capaz de deixar o interlocutor absolutamente paralizado, incapaz de esboçar alguma reação. É como o lutador de boxe ( quer troço mais horrível que boxe ? pior que tem, deixa pra lá ) que leva um "direto" na ponta do queixo. O sujeito "apaga" e pronto.

Eu, por forças de circunstâncias, muitas vezes fui obrigado, também, a dizer NÃO . Mas nunca me deu o menor prazer pronunciar esta palavra . Pelo contrário, para mim ela causava o maior constrangimento e estava sempre acompanhada por vários "considerandos" até chegar ao "finalmente" . Já ouvir um Não a um pleito, mesmo não se tratando de algo de caráter pessoal, sempre a mim se apresentou com um doloroso ar de humilhação. Enorme babaquice, reconheço. A vida é feita de sucessivos " SIMS " e " NÃOS ". Tentar escapar deles o quanto possível é fruto de pura insegurança. Sentir-se acabrunhado diante de uma negativa, também. Tive, na minha vida profissional, grandes amigos que ocuparam cargos de alta expressão e que mantinham estreita relação com a minha atividade. Pois não é que eu abominava ter que pedir algo a eles, por mais regular e razoável que fosse, por imaginar que pudessem pensar : " Esse cara se faz de meu amigo por interesse ... " . E, quem não sabe ser a vida comercial um permanente jogo de "bons relacionamentos" ? Eles costumam valer fortunas. Agora, pergunto, não serei caso de internação ? Talvez não, pois a psiquiatria anda recomendando que fechem os hospícios, puxa, que sorte a minha ! Para mim, amigo sempre existiu para gostar, curtir, bater papo, sair junto, achar uma ótima companhia, "tomar uma" ( ou muitas ), ser solidário nas horas amargas, etc. Mas não para auferir vantagens.

Hoje, analiso este meu estilo, nem com raiva, nem com arrependimento. É, simplesmente, o meu jeito e fim de papo, fazer o quê ?