Bem, convenhamos, em matéria de eventos culturais, museus e exposições, se a cidade São Paulo não chega a ser a "sétima maravilha do mundo" , também está longe de assumir a condição de "cocô do cavalo do bandido" .Interessante é que, em sua grande maioria, os personagens que compõem as nossas elites -habitantes do município, passam décadas sem cogitar de assistir a um concerto de música clássica na Sala São Paulo, a um espetáculo de ópera ou balé no Municipal, nem prestigiar os nossos museus, pinacotecas e suas exposições, fixas ou de visitantes, etc., etc., etc.
E, naturalmente, nenhuma falta lhes faz essa ausência. Os programas preferidos são restaurantes, restaurantes, restaurantes, um cineminha aqui outro ali, quem sabe uma peça de teatro, comédia, naturalmente, "pois de drama já basta a vida". Tudo bem, nada a acrescentar, ou a deduzir. Essas escolhas são meramente pessoais e merecem ser respeitadas.
Só não consigo entender uma coisa : algumas - boa parte - dessas mesmas pessoas, embarcam para a Europa e, acredito que durante o vôo, são atacadas por um virus identificado como " tudo pela cultura ".
Gente, é um tal de visitar museu, atrás de museu, com direito até a lágrimas diante dos quadros mais reproduzidos pelo mundo afora. Tenho até o caso da mulher de um amigo que após passar um dia inteiro adquirindo reforço cultural no Louvre, anotando tudo o que via numa cadernetinha de grife, se saiu com essa : " Fiquei mesmo muito emocionada ao ver de tão perto a Gioconda. Nossa, imaginar que aquele quadro foi pintado há quinhentos anos ! . Leonardo da Vinci era mesmo um gênio ... " E, sem pestanejar, arrematou : " Só fiquei decepcionada por não ter encontrado a Mona Lisa. Será que estava em alguma exposição no exterior ? ".
E, se tome museu, também tome ópera, música clássica, vai assistir a um dúo de violino, apresentações de grandes sinfônicas, isso sem deixar passar em branco a programação de balé clássico.
Também, não sou nada contra todo esse circúito cultural . Na verdade, o acho admirável até. Só não consigo entender muito bem a metamorfose ocorrida na rota Brasil - Europa e, pior ainda, salvo contar para os ( as ) amigos ( as ), as enormes emoções vividas no Velho Continente, ao apetite cultural desaparece como num passe de mágica, tão logo o avião toca em Cumbica ou no Galeão.
Já houve quem tentasse justificar para mim o fenômeno, sob a alegação de que, por aqui não há o necessário "clima", ou glamour, que motive a maioria das pessoas a frequentar esses ambientes. Ah bom, pode até ser, então é isso ...
Eu, pobre de mim, só posso mesmo é confessar a vocês que as duas últimas vezes em que visitei um museu aqui em São Paulo, foi o mesmo : O Do Futebol ! Meu Deus, quanta vergonha me dá ser honesto e contar verdades para vocês !
