sexta-feira, 17 de julho de 2009

FALANDO DA MELHOR IDADE

Quando a gente começa a dispor de vagas exclusivas de estacionamento em shoppings e guichês especiais de atendimento em bancos ou, para ser mais exato, quando se lê uma tabuleta escrita IDOSOS e é conosco mesmo que ela está "falando", a coisa começa a ficar séria. Já ando até pensando em ir à praça da Sé adquirir um RG ( para os não paulistas, cédula de identidade ) falso, me subtraindo uns dez anos e, se não o faço, não pensem que é por algum bom preceito moral ( aproveitaria até para mudar o meu sobrenome para Sarney ). Pô, diante do que se anda fazendo por aí, um RGzinho fajuto, sem o propósito de dar trambique em ninguém, não é possível que ainda seja considerado crime pela Justiça ! Mas o problema é que, se eu me meto a abater dez anos em minha idade, ninguém vai acreditar, a começar da mais cruel de todas as invenções, o espelho !

Tenho que confessar, porém, que se assumo os meus abomináveis 63 anos, algumas coisas há, que me recuso terminantemente a fazer : não entro em fila de idosos, não estaciono em suas vagas, jamais me matricularei em qualquer curso dirigido à terceira idade, do tipo "informática", "dança", "história da arte", "os grandes compositores", etc. Aliás, pior que "terceira idade", só a tal da "melhor idade" . Melhor idade é o cacete ! é o que tenho vontade de dizer. Outro dia, uma pessoa muito querida, me perguntou : " Por que você não entra naquele grupo que faz ginástica no Pão de Açucar ? ". Até agora estou em dúvida se ela estava preocupada com a minha saúde, ou querendo me sacanear. Bem, conhecem o grupo que faz ginástica no Pão de Açucar ( supermercado, é bom esclarecer, pois os meus amigos cariocas podem pensar em Pão de Açucar, Corcovado ... ) . Os exercícios são tão devagar que parecem aquele recurso de televisão para repetir gols e lances duvidosos, o tal slow motion ) . E a galera engajada no esquema ? 80 % são japoneses, aliás, nada contra nossos irmãozinhos nipônicos, mas japonês velho abusa do direito de ser feio ! Acho a criancinha japonesa o maior barato, super-fofura, dá vontade de apertar mas, velho, pelo amor de Deus ! E, lá vai a turma : o exercício mais radical é abrir o braço ( um de cada vez ) para o lado, até colocá-lo na horizontal, após alguns estalos, naturalmente. Depois, todos vão virando os rostos para a esquerda, correndo-se o risco de alguém se enganar de lado e dar de cara com um japonês, tomando o maior susto ! Outro dia, prestei atenção, o professor resolveu introduzir na série dos vapt-vupt, um suave agachamento. Metade do grupo, pelo menos, de modo próprio, jamais retornaria a posição vertical, não fosse devidamente "guinchada" .

E, no mesmo supermercado, me acontece cada uma ! Não é que estava numa fila qualquer, pacientemente aguardando a minha vez de passar no caixa, quando vem um garotinho, desses que ensacam as compras, me segura pelo braço e saiu puxando, a dizer : " aquela fila está vazia ." Quando me dei conta, era a detestável caixa para "gestantes e idosos" . Como gestante não sou, pronto, lá estava eu devidamente rotulado pelo moleque como idoso ! Dei para ele um sorriso de agradecimento que bem poderia ser confundido com um rosnado, em todo caso ...

Outra coisa que me aborrece nessa história de ser sexagenário é o preconceito dos planos de saúde contra quem fez sessenta anos. Podem olhar nas tabelas : você tendo cinquenta e nove anos, onze meses e 29 dias, mesmo que esteja caindo aos pedaços, a sua mensalidade é X . No dia seguinte, ainda que exiba uma saúde de Tarzã, a sua mensalidade será XXX ! Parece que completar sessenta anos, para essas empresas, é como despencar de um abismo, elas tendo que ir lá embaixo para catar os pedaços, lhe reconstruindo por inteiro, faz sentido ?

Não há nada a fazer, reconheço, salvo ir levando, até o dia em que que sentirei saudades dos tempos em que era idoso, pois assumirei uma nova fase, e essa é dura : ANCIÃO ! Ancião vai ser demais, sinto que não vou resistir ...