sexta-feira, 24 de julho de 2009

E OS ADULTOS NÃO BRINCAM?

Uma noite, nem sei bem como começou, estavamos num grupo familiar, na casa dos meus então sogros, em Volta Redonda, terreno grande, jardim, quintal, muita vegetação, etc. . E, atenção, nada de álcool na parada, só refrigerantes. Pois bem, resolvemos brincar com as crianças de "esconde-esconde" e todos acabaram aderindo à brincadeira, menos o sogro que, sisudo, não se permitia esses desfrutes. O que quero dizer é que, por algumas horas, as crianças, os jovens e os coroas entraram no mesmo clima e haja esconderijos, sustos e correrias. Mas, esse tipo de coisa, aconteceu uma única vez em minha vida pois, se convencionou, adulto não brinca, ou, se brinca, é com outros tipos de "brincadeiras".

Talvez por isso, nas minhas idas à Orlando, adorava sentar num banco qualquer e ficar apreciando os adultos e coroas se permitindo resgatar os seus tempos de crianças, entrando e saindo das atrações, apressados, em meio a gostosas e inocentes gargalhadas. Fora daquele contexto de fantasia, provavelmente, todos se tornavam sérios e de poucos e contidos risos, assim é a vida.

Raros são aqueles que continuam, já adultos, tendo alguns "momentos-criança" e, não é por outro motivo que reverencio aqui o eterno brincalhão Francisco, muito embora reconheça que ele, vez por outra, extrapola um pouco os limites toleráveis nas suas "artes".

Na verdade, vocês já tomaram conhecimento de várias histórias, tendo o Francisco como seu autor. Hoje, me ocorreu contar um caso em que ele foi "vítima" .

Os pais desse meu amigo tinham um agradável sítio em Mendes, cidade situada quase ao pé da Serra das Araras, no Rio de Janeiro. Importante ressaltar que o Francisco sempre morreu de medo de ladrão, de ser assaltado, etc., desde a época em que praticamente não se ouvia falar deste tipo de ação da marginalidade.

O sítio em Mendes, para ter alcançada a sua porteira, exigia que se trafegasse por uma estrada secundária, de terra batida, e, nos seu últimos trezentos ou quatrocentos metros, o caminho se estreitava, só permitindo a passagem de um único carro.

A Christina, eu e os meus filhos, assim como a Célia, mulher do Francisco e crianças, fomos para Mendes numa sexta-feira cedo. O Gustavo, meu irmão, e o Francisco, ficaram de ir juntos para lá, à noite, após o expediente. Por idéia minha, a Célia e a Christina passaram o dia quase todo, montando um "boneco-homem", que ficou uma perfeição. A cara, era uma cesta de ovos daquelas de arame, devidamente ornamentada por uma peruca velha e um boné. O corpo foi montado com bolas de jornais dentro de uma calça jeans, camisa de mangas compridas, meias e tenis. Uma perfeição . Escolhemos um local estratégico, logo após uma curva, já no trecho onde só dava para passar um carro, e deitamos o boneco, atravessado no chão, de bruços, simulando alguém caído, como se estivesse bêbado, atropelado, ou até, pior, morto.

Fomos para um lugar de onde poderíamos ver a chegada do carro deles sem ser notados. E, nos pusemos a esperar. Lá pelas nove da noite, vimos os faróis. Eram eles. Quando fizeram a curva e deram de cara com um "homem" caído na estrada, foi aquela freada. "Pô, tem um cara caído ali", disse o meu irmão. " Vai, Gustavo, dá ré depressa que é um assalto !!! ". Mas, sair de ré, naquele caminho estreito e à noite, era impossível. Trinta segundos de silêncio e o meu irmão falou : " Não é assalto, se fosse, já teria acontecido ". Aí, o Francisco, começou a gritar pelo caseiro, Seu Manézinho. Só que a casa dele ficava longe e o sujeito não ouvia. " Vai lá Gustavo, vai ver se o cara está bêbado " . "Bêbado não está, o sujeito não se mexe, acho que está morto ! " . " Morto, morto, morto ?" Repetia o Francisco em desespero. "Talvez esteja só desmaiado e precisando de socorro", disse o Francisco. O meu irmão, que era desse tipo de viver lustrando o carro dele com flanela, tratou logo de avisar : "O meu carro não é ambulância, aqui esse camarada não entra ! ". Creio que ele imaginou o carro todo vomitado, ou pior... O meu irmão ainda sugeriu : " Francisco, vai até lá ver se o sujeito está vivo ! ". "Eu, de jeito nenhum, vai você ! " . Estabelecido o impasse, eles, finalmente, lembraram da busina do carro e a acionaram freneticamente. No silêncio da noite e na região erma em que estávamos, era impossível não ouvir aquele barulhão. Eu dei uma volta pelo terreno e apareci na estradinha, bem adiante do caído, perguntando, "O que houve ? " " Tem um homem jogado aí na estrada", responderam os dois, ao mesmo tempo, vozes trêmulas. Eu, me colocando como muito valente, marchei em direção ao boneco, me ajoelhei no chão e pus um ouvido no peito do "coitado" : " Ainda está respirando, vamos levá-lo para o hospital, eu disse", parecendo o rei da coragem. " No meu carro é que não vai, respondeu o meu irmão ! " . Foi quando eu não aguentei mais continuar aquele teatro e caí na gargalhada, as mulheres apareceram, etc. Foi quando vimos uma mancha grande na frente da calça do Francisco. O cara, aterrorizado, diante do medo de ser assaltado, havia mijado nas calças.

Mas, não pensem que o Francisco deixou essa brincadeira sem troco não. Só que, aí, já é conversa para um outro dia.