sexta-feira, 3 de julho de 2009

PERDOEM AS MINHAS FALHAS!


Fosse eu descrevê-las, uma a uma, e seria forçado a manter este blog operando por muitos e muitos anos . Algumas delas, no entanto, merecem destaque e faço questão de mencioná-las, acompanhadas de um humilde pedido de desculpas, em especial a quem, um dia, já tenha sido minha "vítima" .

Padeço de uma inacreditável "desorientação geográfica". Quem conhece São Paulo, sabe que duas das principais artérias da cidade são as chamadas Marginais ( esse nome, até hoje não descobri se representa alguma homenagem aos nossos políticos, ou se identifica o fato de estarem às margens dos rios Tietê e Pinheiros. Pois bem, trinta anos em São Paulo não me foram suficientes para me dar certeza, quando me encontro nessas avenidas, se estou "de um lado", ou "de outro" dos rios . Uma vergonha ! Quando me vejo "perdido", me xingo, espraguejo, juro que vou prestar toda a necessária atenção para nunca mais errar . Dois meses depois, volto por lá e, pronto, tudo acontece novamente. Colocar o tal GPS no carro, nem pensar. Primeiro, que para ler preciso colocar os óculos ; segundo, que se eu for tentar "entender" o mapa enquanto dirijo, vai ser batida na certa ; terceiro, que parar o carro para ver com calma o caminho correto a ser seguido, me colocará, pelas mais recentes pesquisas, com 92, 387% de chance de ser assaltado. Está difícil !. Por quase quarenta anos, fui um piloto que contava ao seu lado com um eficiente "navegador", uma espécie de GPS de carne e osso e com "viva-voz" : "vire na primeira à direita", "siga em frente até a terceira tranversal" e lá ia eu sossegado. É bem verdade que "esse GPS" ,às vezes, cometia algumas falhas, do tipo " entra à esquerda ", enquanto o sinal feito com a mão, determinava que eu fosse para a direita. Mas, no caso, logo aprendi a manha correta : acreditar sempre na sinalização manual e não na voz .

Outras terríveis falhas, são ser péssimo fisionomista e incapaz de guardar o nome das pessoas, pelo menos nas primeiras 147 vezes que me deparo com alguém. E, nada de dizer que essas coisas são "naturais da idade" . Sempre fui assim e milhares de vezes "me odiei" por isso . Quantas e quantas vezes cruzei com pessoas, algumas até relativamente próximas, e segui em frente sem a elas oferecer um mísero aceno de cabeça ? Aí, também entra uma histórica timidez : Se for mulher, vai pensar que eu a estou paquerando; se for homem, pior ainda, vai pensar que eu ..., bem, deixa prá lá ! E o nome ? Mãe do céu, essa do nome é terrivel . Quando eu identifico a pessoa, o que já é quase um milagre, cadê que me vem o nome da figura ? O sujeito me para, dá um abraço e diz : " Jaime Ballalai , que enorme prazer em revê-lo ! " Eu retribuo, procurando demonstrar o mesmo entusiasmo e o nome ... nada. De repente, para mim, o camarada pode ser João, Paulo, Astolpho, não tenho a menor idéia. É muito sofrimento !

Ah, tem outra, o jornaleiro, eu reconheço perfeitamente na banca de jornais. Já encontrar com ele numa agência bancária, é completamente diferente. E isto vale para todos os personagens do meu dia a dia. Pô, como é que eu posso reconhecer um garçon, por exemplo, na fila de um cinema ? Como identificar o cara que põe gasolina no meu carro em plena padaria ? Faz favor, o personagem não devia nunca sair do seu contexto, quem mandou ?

Mas, para fechar esta conversa, vou contar uma de lascar : durante muito tempo, a Christina e eu, fomos amigos relativamente próximos de um casal, encontrando-os três ou quatro vezes por ano . A vida, no entanto, nos levou a percorrer caminhos diversos. Da fisionomia dele, não esqueci, mas ela, digamos, é uma pessoa com traços menos marcantes, sei lá. Gostava muito de ambos e, um dia, uma amiga comum me alertou : "olha, a fulana faz compra no mesmo supermercado que o seu e me disse que você passa por ela e não a cumprimenta ." Puxa, morri de vergonha, essa postura só pode estar sendo entendida pela moça como uma grosseria totalmente descabida. Passou o tempo. Um dia, fico sabendo que o seu marido, meu amigo, havia falecido. Fiquei triste, penalizado, lamentei sinceramente o fato de não havermos estreitado nossa amizade, etc. E fiz questão de ir à missa de sétimo dia. Esperei para ser um dos últimos na fila de pesames e disse para a viúva : " Desculpe por haver passado algumas vezes por você sem cumprimentá-la . Eu sou muito distraído, fazia algum tempo que não nos víamos e tal e coisa"

A partir daí, tratei de ficar "esperto" quando ia ao Pão de Açucar perto da minha casa. A encontrei umas duas vezes e, todo orgulhoso, falei com ela com a maior simpatia. Puxa, pensei, estou melhorando, "quase curado", que beleza ... . O tempo passou e lá estou eu, de novo, fazendo minhas comprinhas. Foi quando vi, numa gôndola, a minha amiga. Oi, fulana, como vai ? E aproximei o rosto para beijá-la . Eis que vejo uma mão espalmada na minha frente e o complemento cruel : " Desculpe, o senhor me está confundindo com alguém, não me chamo fulana de tal " . Tudo o que eu queria ali, é que o chão se abrisse e eu fosse tragado para sempre . Como isto, infelizmente, não ocorreu, me desculpei muito sem graça com o alvo do meu imperdoável engano, e jurei que, dali em diante, poderia continuar sendo acusado de mal educado, mas não mais ficaria tentando beijar mulheres louras e desconhecidas que cruzassem comigo pelos supermercados da vida .