terça-feira, 7 de julho de 2009

CASSINO ESTORIL


Ontem, tratei de um assunto "pesado", o perfil psicológico da candidata Dilma Roussef. Para tornar o clima mais ameno, vou contar mais uma história envolvendo um antigo amigo, o Francisco. Combinamos uma viagem a Europa . O Francisco, meu irmão e eu, fomos de navio. Em Lisboa, nos encontramos com a mulher dele, minha doce e querida irmã Célia ( não de sangue, de coração ), a minha mulher à época, e a mãe dela, pois as três não toparam ir de navio.

O Francisco que, então, entre mil e uma atividades, era dono de uma agência de viagens, já tinha ido a Portugal ( e, de resto, "ao mundo" ), incontáveis vezes, sendo um "guia" perfeito, desses que sabe, em cada lugar, o que vale a pena conhecer e o que não passa de "enganação para turista".

Pois bem, estamos todos em Lisboa e, já na primeira noite, fomos curtir um restaurante desses enrustidíssimos, onde cantava uma espécie de grande dama do fado. Comida deliciosa, velhos fados, tudo perfeito, Francisco propõe : vamos ao Cassino de Estoril ! A mãe da Christina "jogou a toalha" e a deixamos no hotel. Pegamos a estrada e lá fomos nós. O Francisco havia lugado uma van ( ou carrinha , como dizem os portugueses ) imensa, nove lugares e mais um porta-malas compridíssimo, fazendo-a quase do tamanho das limousines americanas. Bem, como o único escalado para dirigir era o próprio Francisco, azar o dele, ter que pilotar aquele treco enorme.

Chegamos ao cassino e a impressão é que todos os portugueses e mais os turistas haviam resolvido arriscar a sorte ao mesmo tempo naquela noite. Cadê vaga para estacionar a "monstrinha" ? Aí o Francisco deu a idéia : " Deixo vocês na porta do cassino e vou procurar vaga com o Gustavo ( meu irmão ) " . Estava um frio de rachar e aceitamos a proposta de bom grado. Entramos os três e nos pusemos a esperar. Meia hora, nada. Uma hora, nada ... . De repente vemos o meu irmão entrar sózinho, olhos esbugalhados. " Pô, o que houve, perguntei ? " " O Francisco bateu a camionete, está a maior confusão, polícia, gente olhando, o diabo ! " . Diante do ocorrido, marchamos todos, tiritando de frio, para o local do acidente. E, estava formado o rolo . A "vítima" da batida dizia para os guardas da rádio-patrulha : " Ele ( o Francisco, de fato totalmente culpado ) ia fugir ! " . "Não ia ! " , " Ia ! " , pensei que a discussão não iria acabar nunca. As mulheres se enfiaram na Van por causa do frio e nós ficamos no sereno, solidários ao amigo. Era um por todos, todos por um !

Como tínhamos seguro total, foi preenchida uma enorme papelada ( a burocracia brasileira não terá vindo de outro lugar ) , assina aqui, assina ali, e, por fim, o "chefe da guarnição policial ", acreditando na versão do patrício, passou um sermão de uns dez minutos no Francisco, avisando que, em caráter de exceção, ia liberar o carro e os documentos, mas que ele tivesse todo o cuidado, etc. e tal. O Francisco, com ar contrito, ouvia tudo, só balançando a cabeça concordando.
Finalmente liberados, eu propus : " gente, vamos embora, Deixa o Estoril para depois ." Mas o Francisco insistiu : " Ah não, de Lisboa até aqui é uma viagem, voltar da porta ? De jeito nenhum, vamos procurar uma vaga " . Olha daqui, olha dali e nada. De repente, a Célia descobriu um lugar vazio, numa rua à nossa direita. "Entra aí Chico, disse ela ".

E o cara entrou "com tudo", sem perceber que entre o nosso veículo e a esquina, estava estacionado um daqueles mini-carros europeus. Eu dei um grito, mas já era tarde ! A cacetada foi de tal ordem que faltou só um pouquinho para o infeliz carrinho virar de lado. Ficamos, por uns segundos, paralizados, em estado de quase torpor. Aí, a Célia sacudiu a todos com o maior grito : " Foge Chico, foge ! " . E o meu amigo não se fez de rogado, saiu cantando pneus, fazendo as maiores loucuras e imprudências, parecia uma cena de perseguição no cinema, até por cima de calçadas o cara passou . Pois não é que, quando, finalmente, entramos na auto-estrada que leva à Lisboa, vimos uma porção de carros da polícia, luzes azuis piscando e os guardas sinalizando para os carros diminuirem a velocidade ? " O Francisco, como que assumindo o papel de criminoso que se vai entregrar à Justiça, balbuciou : " É, me pegaram ! " . Só que os policiais estavam ali por conta de um feio acidente que nada tinha a ver com a gente. " Ufa ! Que alívio ... , alguém falou " . Aí, eu entrei com o meu discurso careta, retrógado e totalmente fora dos nossos tempos : " Querem saber ? Eu achei o maior absurdo a gente ter fugido ! Poxa, temos a obrigação de responder pelos nossos atos " . A Christina e a Célia, não sei se de nervoso, começaram a rir às gargalhadas e eu ficando cada vez mais inconformado com a atitude delas. O Francisco "ousou" se defender : " Qual é, caramba, se aquele policial me pega, eu só iria sair dali algemado e no camburão ! " . E as mulheres riam mais ainda, um horror !

Bem, antes de seguirmos para Paris, ainda houve diversos incidentes com a tal da carrinha, pois não havia meio de o Francisco "abrir" nas curvas, o suficiente para "livrar" o comprimento daquela Van. Aconteceram outros esbarrões de menor porte, é verdade, e até mesmo uma calha de uma casa num daqueles bairros antigos sem calçada, foi arrancada violentamente pela carrinha, não me perguntem como. Mais um palmo e, sem dúvida, um bom pedaço da velha moradia teria sido demolido. E olha que, sob a temerosa pilotagem do amigo Francisco, ainda tivemos a audácia de virar Portugal de ponta-cabeça.

Depois , graças a Deus, na França não rolou nenhum aluguel de Van ! Mas, situações como esta, devo reconhecer, tornam uma viagem verdadeiramente inesquecível !