sexta-feira, 31 de julho de 2009

CONHECEM OS QUE NÃO ERRAM NUNCA?

Quem já não se deparou na vida com figuras que se consideram " Senhores da Razão " e, sendo assim, recebem como insultos as opiniões que não coincidem com as suas ? Não sendo necessário conviver com esse tipo "exótico" de personalidade, ótimo, você sai de fininho e tchau, afasta a peça do seu circuito. Duro é quando existe entre você e o "Vice-Deus" uma proximidade quase que compulsória. Aí, das duas uma, ou você concorda para não criar atritos, o que é execrável, pois representa uma negação de si mesmo, ou se condena a um silêncio próprio das celas de um monastério, o que é um pouco melhor pois, pelo menos, não é forçado a se expor a uma conivência explícita.

Vou puxar o assunto para o campo da política, na tentativa de ser mais claro. Quem conheceu o grande coronel da política baiana, o falecido Antonio Carlos Magalhães ( que foi de tudo na política, durante décadas, menos presidente da República ), diz que uma das suas virtudes era saber formar equipes competentes e comandá-las com mão de ferro. ACM era o próprio Vice-Deus da Bahia. Ai de quem ousasse contrariá-lo ou não seguir estritamente o seu comando. Cheguei a ler que certa vez um secretário de Estado se atrasou para um compromisso com ele, então governador, e, ao chegar, o sujeito levou até ponta-pé na canela na frente de um grande número de pessoas ( ainda que estivessem os dois sózinhos, é óbvio que já seria inadmissível ) .

Interessante é que pessoas assim, estilo ACM, movidos por uma imensa vaidade, são capazes de se imaginar queridos e admirados quando, na verdade, são silenciosamente odiados pelos que gravitam em torno deles, sempre movidos por interesses, seja de prestígio pessoal, seja mesmo de vantagens materiais.

Deixemos o finado ACM descansar em paz ! Agora, prometo, finalmente, chegar à questão central desse bate-papo de hoje.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se viu, há pouco, envolvido numa questão que acabou por ter grande repercussão no país. Um negro, amigo pessoal de Obama e eminente professor da Universidade de Harvard, Henry Gates, ao voltar para casa depois de uma viagem, não conseguia abrir a sua porta principal e começou a forçá-la. Uma vizinha que não o conhecia, pensando que se tratava de um ladrão, chamou a polícia que, ao chegar, exigiu que o professor se identificasse. Estressado com a situação, Henry Gates entendeu a imposição do policial, como sendo de conteúdo racista ( caso eu fosse branco, a conduta seria a mesma ? ) e o teria desacatado. Como sempre acontece nos States, desacatar um policial significa ser conduzido algemado para o distrito policial mais próximo. E com o professor não foi diferente.
O caso foi parar na imprensa e o Obama, numa entrevista coletiva, tomou as dores do amigo, acusando a ação policial de estúpida. Aí, a opinião pública se dividiu, tendo muitos, especialmente os conservadores, dado total razão à polícia que teria agido rigorosamente dentro da Lei.

Bem, o caso caminhava no sentido de reavivar a triste questão da história do racismo nos EUA, quando os negros passaram por toda sorte de discriminação, até se chegar à eleição de um negro para a Casa Branca, inimaginável para muitos.

E, segundo entendo, Obama foi genial. Levando em consideração que o policial branco envolvido na questão, James Crowley, ministra aulas de antirracismo na sua corporação e agiu dentro dos Regulamentos, se considerou errado ao declarar como "estúpida" a conduta da polícia e convidou o professor e o policial para, com ele, Obama, tomarem uma cerveja nos jardins da Casa Branca, encerrando definitivamente o episódio que não acabou em pizza, mas em confraternização, que também contou com a participação do vice-presidente Joe Biden. A imprensa, em tom de galhofa, batizou o encontro de "Cúpula da Cerveja" .

Mas, o importante é o seguinte : o todo-poderoso presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, teve a humildade de vir a público dizer que havia errado e pedia desculpas, em especial ao policial branco James Crowley. Esse gesto bem que poderia servir de exemplo àqueles que, sempre com o rei na barriga, excluem do seu linguajar reconhecimento de erros e pedidos de desculpas.