quarta-feira, 22 de julho de 2009

NO MEU TEMPO ERA MUITO MELHOR...

Quando a gente entra nessa de "no meu tempo tudo era ótimo, hoje tudo é péssimo", é sinal de que, para nós, o fato de estar vivo, já não passa do cumprimento de uma mera formalidade. Quem, entretanto, como eu, alcançou seis décadas de vida tem, obviamente, uma capacidade mais ampliada de observar e estabelecer comparações, ou melhor, de observar os prós e contras existentes nas épocas em que fui criança, jovem, adulto e, digamos, maduro.

Em cada um desses períodos, no entanto, encontraremos vantagens e desvantagens ao cotejá-los uns com os outros, mas não há como afirmar que, em tal época, o seu "conjunto" era melhor. Essa afirmação não passa de uma grande bobagem.

Para encurtar a conversa, posso garantir que, há não muitos anos, quem teve um câncer no reto, como eu , já estaria fazendo companhia aos anjinhos ou demoninhos e não aqui sentado, na frente de um notebook, com o mundo inteiro ao alcance do teclado. Em compensação, fui rapaz em Copacabana, numa época que você podia andar, de madrugada, atravessando quarteirões a pé, sem que existisse a mais remota possibilidade de lhe ameaçarem com uma arma para roubar o seu relógio, carteira, ou uma correntinha de ouro.

Quando comecei a namorar com a Christina, no longíncuo ano de 1966, ela estudava no Rio ( claro que com a mãe tomando conta ) e passava as férias em Volta Redonda, pois o seu pai trabalhava na Companhia Siderúrgica Nacional. Pois bem, você ligava para "interurbano" e dizia querer uma ligação para Volta Redonda ( 100 km. de distância ) . Sabem quanto era o tempo normal de "espera" para completar a ligação ? Nunca menos de duas horas ! E quando, finalmente, era feita a ligação, você gritava a plenos pulmões, e ouvia, do outro lado, algo como um fio de voz respondendo : "O quê ? Não estou ouvindo direito ... ". Mas, nessa mesma época, morar em Volta Redonda era quase como viver em uma pequena cidade norte-americana. A Usina Siderúrgica, os bairros residenciais, hospital, escola, praças, prédio de escritório, clubes, tudo fazia lembrar que os projetistas daquele complexo, eram americanos e, de seu país, trouxeram, os padrões então existentes. Casas confortáveis, com cercas baixas e jardins na frente, tudo funcionava como um bom relógio, pois o dono daquilo tudo era a CSN e ela sabia e tinha recursos para manter a cidade em perfeito estado de conservação, e o fazia muito bem. Lembro que me encantava ver os diversos bairros ( Volta Redonda teve durante nem sei quanto tempo a maior renda per capita do Brasil ) , até os que abrigavam os seus operários, com casas decentes e bem cuidadas, jardim na frente além de um sonhado Fusca estacionado na garagem. Os sociólogos achavam aquela planificação urbanística ( bairro do pessoal de nível superior, bairro do pessoal de nível médio, bairro de operários, clubes idem ), um verdadeiro horror segregacionista. Já eu, achava admirável um operário poder ter uma casa decente, água, luz, esgotamento sanitário, asfalto na porta o seu Fusca e um clube para ir com a família no fim de semana. Quanto ao segregacionismo, devo dizer que jamais pisei os meus pés no Country Club do Rio de Janeiro e nunca me senti infeliz por isso. Caso hoje, o mais humilde trabalhador brasileiro tivesse esse padrão de vida de Volta Redonda da época, aí sim, estaríamos vivendo no primeiro mundo.

Tínhamos, nessa mesma fase, uma persuasiva propaganda tabagista, mas, de drogas nem se ouvia falar . Pelo menos ao que se sabia, o uso de drogas era restrito a um pequeno grupo, totalmente inexpressivo em termos quantitativos e completamente apartado da minha roda de juventude. Vivíamos os tempos do cuba-libre e olhe lá.

Mas, quero chegar no seguinte : os tempos de hoje, em ciência, tecnologia, alternativas de consumo, de informação, de conforto, é incomparavelmente melhor que o da minha época de jovem. Por outro lado, temos a violência urbana, o trânsito insuportável, a valorização exarcebada dos bens materiais, as drogas destruindo famílias e o quase generalizado desprezo pelo caráter, traços fortemente marcantes nos dias atuais. Você vale pelo que ostenta, não pelo que é. Ótimo sonho seria poder somar as coisas boas das diferentes épocas que vivi e eliminar os seus aspectos negativos. Não sendo possível, melhor tentar "se ajustar", na velocidade que nos seja possível, aos nossos dias, antes que nos tornemos verdadeiros "estranhos no ninho", como a mim, de certa forma, já consideram, os nascidos nas gerações mais recentes.