terça-feira, 21 de julho de 2009

GRANDES AMIGOS, PEQUENOS DEFEITOS...

Continuando no assunto de ontem (Amigos), achei que valia a pena "esmiuçar" , até mesmo em sentido jocoso, alguns defeitos "corriqueiros" nas pessoas, principalmente naquelas cujas virtudes superam em muito os seus pecados veniais. Em alguns desses traços, eu me incluo, a começar por, no mais das vezes, não ter a devida paciência com alguns "escorregões" de pessoas amantíssimas . Então, vamos lá :

- Chegar sempre atrasado. Não me refiro ao sujeito pontual que, um belo dia, por um incidente qualquer, chega atrasado a um compromisso . Para citar um exemplo, tenho um amigo que reune em si, um milhão de qualidades. Só que ele não consegue nunca chegar aos encontros com, pelo menos, meia ou uma hora de atraso. Pior, ele tem, invariavelmente, uma desculpa na ponta da língua, para justificar a impontualidade. Como eu, preocupado com o horário, sabendo como é o trânsito em São Paulo, acabo sempre chegando mais cedo que o combinado, as minhas "esperas" em bares e restaurantes, onde normalmente nos encontramos, costumam ser longas . Numa das últimas vezes em que acertamos almoçar, ao vê-lo chegando, esbaforido e atrasado como sempre, não me contive e fui logo dizendo "por favor, me poupe de ouvir a desculpa do dia" . Não devia ter dito isso mas, no meio do almoço, o incidente já estava completamente superado ;

- Ser invasivo . Vou repetir um caso que já contei aqui. Houve um período em que, morando em São Paulo, tinha que ir ao Rio de Janeiro pelo menos uma vez por semana, para cumprir compromissos de trabalho. No Rio morava o meu único irmão, em um apartamento com quarto e banheiro para hóspedes. Como ele era solteiro, telefonava para ele e dizia : "estou indo para aí, você tem compromisso para jantar ? Posso ficar em sua casa ? " Muito embora eu pudesse optar por um bom hotel, com as despesas cobertas por pessoa jurídica, era uma oportunidade de desfrutar por mais tempo da companhia dele. Pois bem, jamais me dei à liberdade de chegar "de surpresa" , correndo o risco de criar algum constrangimento. Até me lembro de um fato engraçado, quando fui tomar banho de manhã no banheiro de hóspedes e, dentro do chuveiro, esquecido aberto, havia uma bela e colorida "sombrinha" ( adoro esse nome ! ) Mas não são todos que pensam assim. Seja em casa ou no trabalho, incontáveis vezes fui visitado em horas inoportunas ou, até mesmo, inconvenientes. Imagine você no meio de uma reunião brava, que ainda vai demorar horas, e a secretária lhe avisa : "o seu amigo fulano de tal está na recepção querendo falar com você". Não há concentração que resista. E, pior ainda, na época em que eu era obrigado a promover, em minha casa, alguns jantares envolvendo interesses comerciais, e, de repente, chega, para bater um papo descontraído, aquele casal adorável, mas inteiramente fora do contexto naquele momento ? ;

- O "brincalhão" sem-limites . Nada como uma pessoa engraçada, capaz de fazer todo mundo rir, enfim, um verdadeiro "animador de festas" . Nossa, uma noite em sua companhia e você coloca o fígado em ordem. Só que, às vezes, talvez acelerado por um pequeno "excesso etílico" ele extrapola qualquer limite ou censura nas suas "brincadeiras" . Dois exemplos de uma mesma pessoa. Certa noite, em minha casa, abrimos um champanhe para brindar algum fato. Pois o cara não me faz a gracinha de derramar um bom gole da sua taça na cabeça de minha tia que estava sentada e não se levantou para o brinde ? E o dia em que ele deu uma feijoada em sua casa de campo e, todos os presentes trajados informalmente, ele cismou com uma das convidadas que, sempre "boneca", se apresentou como se fosse tomar chá com a Rainha Elizabeth. Bem, caipirinha para lá, caipirinha para cá, não é que, folhas tantas, ele vê a figura bem na beira da piscina e, num leve esbarrão, a impulsionou para dentro d´água ? Não preciso dizer que o almoço quase terminou em um grande barraco e o casal, cuja dama levou o banho, com toda a razão do mundo, nunca mais dirigiu a palavra ao anfitrião ;

- O "primeiro - eu" . Há pessoas que são capazes de realizar os maiores esforços para lhe ajudar. Desde que esses gestos não impliquem em abrir mão de qualquer benefício próprio, por menor que seja ele. Um belo dia, e já faz tempo essa história, mas a considero emblemática, em relação ao "egoísmo incontrolável ", havia um Congresso de Habitação em Belo Horizonte. Um colega de trabalho e grande amigo me disse que gostaria muito de ir ao tal evento, embora a sua presença ali, pelos assuntos que seriam discutidos, não se fizesse necessária. Dei uma forçada de barra e o amigo foi incluído na delegação. Chegamos na véspera do Congresso ao hotel e combinamos alugar um táxi para passear . Quando estávamos na calçada do Hotel, passou uma Van com vários colegas de trabalho. Eles pararam e perguntaram : " algum de vocês quer ir à gruta de Maquiné ? Estamos indo para lá e ainda tem uma vaga no carro " . Eu respirei fundo, pronto para agradecer o convite, e dizer que tínhamos outro programa, quando olhei para o lado e o tal do meu amigo já estava entrando na camionete me deixando sózinho, com cara de bobo, na calçada ;

- O "reclama de tudo" . Aí, é o caso de quem é excessivamente transparente, sincero, incapaz de esconder os próprios sentimentos, sejam eles agradáveis ou desagradáveis a quem vai ouví-los. É a pessoa que você chama, para citar um exemplo bem simples, para comer uma pizza num domingo à noite. Você sugere o lugar, diz que é ótimo, e lá vamos nós. A pessoa começa reclamando do preço do estacionamento, dos quinze minutos que ficou esperando por uma mesa, da demora do garçom em trazer as bebidas, da mesa que é meio apertada, das crianças fazendo alarido no corredor ao lado, da massa da pizza que ele prefere mais fina, do café expresso pouco cremoso, da conta muito alta, da demora para entregarem os carros, ufa ! ;

- E o "bebeu um pouquinho demais" fica perigoso ? Olha, hoje em dia, não "saio" mais que uma ou duas vezes por semana e olhe lá ! Mas já houve o tempo que saía muito, desde quando comecei a namorar a Christina, "saideira" por excelência. Pois bem, era barzinho, restaurante, boate, indo dos 5* aos sem * nenhuma e, graças a Deus, nunca, eu disse nunca, houve nesses montes de saídas, uma briga, uma discussão mais séria com maitre, garçon, guardador de carro, nem, muito menos, com ninguém das "mesas do nosso lado". Tenho uns amigos, no entanto, que sair com eles só em último caso. Muito melhor visitá-los e ser visitado em casa, pois sair significa ficar que nem escoteiro, "sempre alerta", controlando os sinais de perigo. Exemplos ? Vários . Querem um ? Local, o extinto restaurante Traineira que, durante muitos anos, reinou na Avenida Faria Lima, quando ela "morria" na Rua Iguatemi. Fomos jantar com o meu chefe, à época, sujeito magnífico, mas que, quando bebia, ( e ele adorava um uísque Dimple ! ) era um perigo . Pleno regime militar, alguém teve a infeliz idéia de cochichar : " aí, na mesa de trás, está jantando o General fulano de tal " ( Bem, não lembro mais quem era, só sei que o General era um manda-chuva do regime ) . Pois não é que o meu chefe começa a falar que os militares deviam se tocar e perceber que o país não aguentava mais a presença deles e coisa e tal ? ). Eu só faltei cantar boleros, tangos e fados, com todo o meu desafinamento, só para tentar abafar o som que vinha da nossa mesa. Imaginei que, quando saíssemos do restaurante, iríamos bater aos bofetões, numa viatura do DOPS e desaparecer para sempre ( A Christina estaria rica e eu seria um herói do combate à ditadura ) . Mas o General, ou não ouviu, ou resolveu deixar barato o desabafo do bebum e escapamos incólumes. Já outro amigo, fim de noite, numa boite que costumávamos frequentar, um desses camaradas, então um conhecedíssimo playboy, cercado por seguranças, uns verdadeiros armários, resolve colocar a namorada para cantar. O meu amigo não apreciou o talento da cantora e começou a assobiar no meio da música. Pronto, é hoje, pensei ! Vamos apanhar mais que boi ladrão ( esta de boi ladrão saiu do fundo do baú ) ! Pedi a conta e caímos fora antes que o caldo fervesse.

Pois é, fosse eu escrever aqui sobre todos os pecadilhos dos amigos, e os meus próprios, e isso viraria um livro. Passo, então, à moral da história : Temos que relevar as pequenas falhas dos amigos e eles as nossas, caso contrário morreremos falando sózinhos !