terça-feira, 23 de junho de 2009

UM MUNDO DE CANALHAS


Outra noite estava conversando com um amigo que, seguramente, poderia ser meu filho, eis que ele ainda não chegou aos quarenta anos. Fato é que esse rapaz possui grandes qualidades : inteligente, trabalhador, dedicado, incapaz de cometer uma deslealdade com a empresa que o emprega, ou mesmo com os seus superiores hierárquicos, ele é o tipo de executivo que cresceu na vida profissional, única e exclusivamente pelos próprios méritos, eis que nunca teve nenhum tipo de apadrinhamento ou "empurrão" que lhe facilitasse o progresso profissional .

Hoje, esse "sobrinho", pois desde criança ele me chama de "tio", é um profissional do terceiro escalão de uma grande empresa multinacional, excelente posição, em especial pela sua idade. Um bom salário, prestígio, mordomias, etc. Está aí um bem sucedido "produto" da década de setenta.

Pois não é que ele me diz se estar progamando para, no mais curto espaço de tempo que lhe seja possível, dar um " chute nesse balde " promissor que seria a sua carreira e mudar radicalmente de vida, mesmo que com uma natural perda do seu atual padrão de vida e status profissional ? Há várias razões para embasar a sua determinação mas, a principal delas, é não suportar conviver por muito tempo mais com a canalhice própria dos ambientes dessas grandes corporações. Na verdade, ou você "joga esse jogo" de acordo com as "regras" ( e que regras ! ) ou, se insistir em continuar no meio, só que agindo de acordo com os seus princípios, das duas uma : ou acaba "explodindo" a própria saúde, ou vai acabar sendo demolido pelo "sistema".

Talvez me coubesse, como alguém mais maduro, sugerir ao "sobrinho" que pensasse bem, que ele poderia ter à sua frente uma " carreira brilhante ", quem sabe até, a oportunidade de, um dia, ser convidado a trabalhar num país de primeiro mundo e coisas que tais.

Mas, ouvi o desabafo desse jovem, a quem especialmente quero muito bem, seja por quem ele é, seja pela amizade que me ligava ao seu falecido pai, e, se não ajudei a jogar lenha na sua "fogueira" , não pude deixar de entender perfeitamente os seus argumentos e não lhe disse, por receio de assumir uma grande responsabilidade com as minhas palavras, mas, me deu cócegas na língua falar : " Livre-se disso, o quanto mais breve você puder ... " . Não sendo você da mesma "natureza" e caráter que os seus "pares", cuidado ! Sem perceber, você acaba por esperar que os "amigos" ajam com você, da mesma forma como você agiria com eles. E, decepção dói muito, deprime, quando não provoca coisas piores. O simples consumo de bens materiais, muitas vezes atuam como verdadeira armadilha, nos fazendo prisioneiros de uma situação indesejável e nos deixando sem forças para reagir.

Romper com esse "círculo vicioso" de fazer o que não gosta, mas aceitar "viver do que não gosta", é uma verdadeira e custosa agressão a si próprio . E, quanto menos se tornar dependente dos bens de consumo que lhe escravizarão, melhor. Afinal, não se padece pela ausência do que nunca se teve. Ninguém, sendo um "comum dos mortais" vai chorar a falta do helicóptero de última geração, do jatinho mais moderno do planeta, do iate transoceânico, da casa em Paris, do apartamento em frente ao Central Park, se nada disso um dia fez parte de sua vida.

E, a vida me ensinou, salvo as exceções de praxe, à medida que se observa a famosa "pirâmide" , é fácil enxergar que escrúpulos e dignidade vão rareando, à medida que o seu topo fica mais visível.