sexta-feira, 26 de junho de 2009

A MORTE DA PANTERA FARRAH FAWCETT


Há pelo menos duas identificações entre mim e a Farrah Fawcett, que foi, por um bom tempo, uma espécie de "namoradinha da América" : a nossa idade e o fato de termos, em 2006, recebido um diagnóstico de câncer de reto. Tivemos, na mesma época, a mesma doença e, sabe-se lá a razão, merecimento é que não terá sido, eu não passei por sofrimento, nem antes, nem durante o tratamento, nem muito menos depois, quando me vi curado e agradecido aos meus médicos, o oncologista Cláudio Petrillli e o gastro Ubiratan Mendonça Junior, excelentes profissionais e pessoas humanas melhores ainda. Já a Farrah Fawcett sofreu a temida recidiva e passou por todos os sofrimentos nos últimos três anos até que ontem, finalmente, nos deixou.

É bem verdade que, na minha primeira consulta com o Petrilli, entre muitos ensinamentos memoráveis que me transmitiu, deixou bem claro que, em câncer, "cada caso é um caso" . Por isso, não me deveria deixar impressionar com as conversas do tipo " tenho um tio, um amigo, um parente, e lá vem histórias. Em caso de dúvidas, me ligue ou venha ao consultório, nada de ficar dando ouvido a palpites ". Mas, para os leigos como eu, "câncer no reto é câncer no reto", seja em mim, seja na Farrah Fawcett, e quase não consigo entender como "justo" que eu tenha saído "bonito" da situação, enquanto a linda e doce Farrah Fawcett passou por tanto sofrimento.

Aliás, já que estou falando de tristeza ( desculpem o mau jeito, eu quase sempre falo de coisas alegres ou dou "broncas" nos políticos, mas às vezes é preciso chorar, me aguentem por hoje ) , é uma situação inusual, abrir um envelope e ler que se está com câncer. Dizem que muitos, diante do fato, se revoltam e indagam, por quê eu ? Comigo não rolou nada disso. Ora, por quê NÃO eu ? Tive medo ? Sim do sofrimento, não da morte . Preocupação ? Sim, com o meu irmão, uma pessoa a quem adorava e tinha como dependente ( no aspecto emocional ) de mim. Ontem, o meu sentimento por ele, era mais de amor que de obrigação. Hoje, é mais de obrigação que de amor, mas assim é a vida . Por ironia, durante o período do meu mais que suportável tratamento, vivi a última das fases felizes do meu casamento. Parecia , sem que falássemos sobre o assunto, que era uma despedida e que queríamos guardar ou deixar boas lembranças recíprocas. Cineminha, jantar fora, até assistir a "novela das oito" juntos e de mãos dadas . E olha que a última novela a que eu havia assistido, foi aquela do Paulo Gracindo fazendo o prefeito Odorico Paraguaçu, deve ter mais de trinta anos, sei lá.

Voltando a Farrah Fawcett, li que ela teve, nos seus últimos períodos, a permanente e dedicada companhia de Ryan O´Neal , seu eterno namorado, numa espécie de "a vida imita a arte" pois, quem da minha geração não se terá debulhado em lágrimas com o belíssimo, pelo menos para mim, Love Story, quando O´Neal fez um par romântico com Ali MacGraw, num caso de amor quase impossível por antagonismos familiares, entre dois jovens, e que termina com ela, ainda muito moça, morrendo de câncer, ao seu lado ?

É isso aí, querida e lindíssima "pantera". Quiz o destino que você nos deixasse no mesmo dia que Michael Jackson, fazendo com que as atenções da mídia se voltassem todas para o grande interpréte da música pop. Mas, lhe digo do fundo do meu coração, é a você que, por todos os motivos , rendo minhas homenagens, garantindo que o seu rosto e a sua sempre angelical expressão, ficarão guardados comigo para sempre .