segunda-feira, 29 de junho de 2009

"CADA UM É CADA UM" (Ouvi esta simples e sábia sentença de um senhor português, meu amigo)


Esta frase, que aparenta estar inscrita, em posição de honra, em assentamentos de "besteirol", encerra em si um tesouro de objetividade : com as exceções de praxe, como a violência, a covardia e o preconceito, o "direito de ser o que é e de fazer o que gosta", representa a mais mais preciosa conquista do ser humano.

Neste particular, eu sempre abominei esse negócio de prolatar sentenças, a partir de pontos de vista pessoais. Sem essa de " feijoada é horrível ! " , ou " golfe é um saco ! " ou, ainda, "calor é abominável ! ". Que tal se acrescentar um fundamental " Para mim ... " ? Pô, o mundo não pode ser dividido em "coisas boas " ( tudo o que você gosta ) e coisas ruins ( tudo o que você não gosta ). Com a necessária e esclarecedora introdução, começo o papo de hoje : PARA MIM, como já disse, é uma delícia morar durante muito tempo na mesma casa, no mesmo bairro, frequentar o mesmo supermercado, o mesmo restaurante, a mesma banca de jornais, a mesma padaria, etc., etc., etc. Caretíssimo, estarão dizendo vocês. É verdade, nesse particular, reconheço, o sou. Para compensar, em outros "particulares", já não sou ( ou não fui ) tão careta assim ...

Hoje, muito se fala em respeito à individualidade. "Ora pois, pois", individualidade nada mais é que a versão moderna da velha e luzitana "cada um é cada um".

No ramo da "casa própria" , tive na Christina ( para quem não sabe, minha mulher por 40 anos de direito e alguns menos, de fato ), alguém com temperamento diametralmente oposto ao meu. Para ela, vejam só, o ideal seria viver, no máximo, dois anos em cada endereço, isto caso se lhe fosse possível se realizar fazendo uma boa reforma no imóvel, mesmo enquanto ali estivesse residindo . Está errada ela ? Não, de jeito nenhum, é o seu "jeito" . Já eu, adorava a quase centenária casa do meu avô paterno, com suas histórias, seus momentos de alegria e de pesar . Tudo ali representava a trajetória daquela família, significava uma determinada ocasião. Quando ia lá passar férias, pensava : "meu pai nasceu aqui, que legal" . Bem, eu penso assim. Para a Christina e mais um monte de gente, certamente a maioria, aquilo seria um terror, pois a casa deve ser a "nossa casca" . Devemos renová-la sempre que possível . Respeitabilíssima a tese, sem dúvida !

Mas, prosseguindo na linha do "cada um é cada um", eu detesto me mudar, detesto muito mais ainda obras ( por ironia do destino, embora não tivesse nada a ver com as obras em si, fui (sou) por muitos anos, sócio de uma incorporadora/construtora e, como tal, me via obrigado a fazer visitas constantes aos canteiros dos empreendimentos, com aquele pó preto, ferros para todo lado, cimento, buracos, lama ou barro na chuva, capacete para não correr o risco de levar com algum treco na cabeça, enfim, um horror .
Como vêem, se visitar obras para mim é detestável, imagine o quanto "adorava" ter obras em casa e, muito principalmente, enquanto estivesse MORANDO ! O que talvez tenha sido o endereço mais feliz da minha vida, uma casa numa ruazinha sem saída na Vila Olímpia, tive uma obra memorável, quase uma demolição, seguida de nova construção, tudo isto enquanto continuava morando nela. A Chistina achava que, feita aquela reforma, "sossegaríamos" pelo menos por dez anos. O tal sossego durou um ano e já estava de mudança para uma casa bem grande no Morumbi, novinha em folha. Houve obras, mas só do lado de fora ( piscina e paisagismo ), pois esta aí se constituiu numa exceção, pelo seu acabamento impecável ( a pessoa que a construiu iria morar lá com a família e, às vésperas da mudança, recebeu de presente dos sogros uma casa no Jardim Europa, bem próxima a que residiam ).

Dois anos na casa e a Christina, como sempre inquieta, já estava buscando um outro endereço, um apartamento, pois "aquela casa dava muito trabalho para administrar o pequeno exército que trabalhava por lá ".

Foi quando surgiu a oportunidade de passar uma temporada no Rio e lá fomos nós, pois a Christina sonhava em voltar a morar no Rio. Batemos em São Conrado, num apartamento "zero km" , com uns "cinquenta metros de frente para a África", tendo a nos separar desse continente apenas o oceano. Para mim, aquele apartamento era perfeito, na sua arquitetura e acabamento. Puro engano. Já morando, quando me dei conta, estávamos em meio a uma outra obra, daquelas que, excluindo os elementos estruturais, nada sobrou em pé. Eu abria meus armários e pensava : " Nossa, todos os meus ternos são cinzas ... " . Não eram não. Eles "estavam" cinzas, pela poeira que, em tão fabulosa abundância, não se intimidavam com simples portas de armários.

Na volta para São Paulo, três anos depois, novos endereços, novas obras. Eu estava adorando o esquema de fins de semana , na base de restaurantes, teatro, cinema, shows

e bate-papos com os amigos paulistanos. Ainda estava com as pilhas carregadas de energia. Mas, de repente, uma novidade : "que tal uma casa de campo ?" Eu vinha de uma experiência anterior com casa de campo e meti moral : "de jeito nenhum, Deus me livre" . Ato contínuo, me surpreendi assinando a escritura de compra de uma casa no agradabilíssimo condomínio Patrimônio do Carmo, em Ibiúna, num projeto muito promissor de " um lugar perfeito para reunir a família". Não deu certo. Os meus filhos ,então, e é natural que fosse assim, só se interessavam em ir para lá quando "nós não fossemos", pois aí poderiam ir com os amigos da "galera" . Esta casa, quando eu a conheci, pensei : "puxa, que maravilha esta casa, pronta, acabada e decorada" . É entrar e desfrutar. Não foi assim ! Houve, isto sim, uma imensa obra e nova decoração. Mas, no caso de Ibiúna ( fim melancólico, como toda casa de veraneio que se preze : três ou quatro anos sem ir lá, só com despesas e que despesas, e, finalmente, uma venda "para se ver livre do negócio" ). Nos apartamentos que se sucederam, naturalmente houve obras, mas de muito menor porte e, ufa ! , não comigo dentro, felizmente.

Fato é que hoje, se for para ouvir um martelo batendo um prego na parede, "prefiro não pendurar o quadro" . Pretendo exercitar o "cada um é cada um" pois, nesse particular, eu disse nesse particular, o "galo" aqui sempre cantou fino.

Observação :" Polegar Pra Cima " e "Polegar Pra Baixo", voltarão na quinta-feira.