sexta-feira, 12 de junho de 2009

A PRIMEIRA NAMORADA ( ??? !!! )

Dois fatos me levaram a contar aqui esta história, até então jamais revelada, nem mesmo em confiança, numa sessão de análise : o primeiro, foi uma hilariante crônica do Arnaldo Jabor, semana passada, no Estadão, onde é contada a sua primeira tentativa ( e virtual fracasso ) de perder a virgindade, indo com um amigo a um bordel ; o segundo foi mesmo de fazer deste espaço uma espécie de confessionário, escrevendo sem receios, como se fosse algo a ser lido ( e, na verdade, é quase isso mesmo ) apenas pelo seu próprio autor.

Ano, 1960. Local, Copacabana, Rio de Janeiro. O padrão moral ( ! ) predominante na época, indicava duas formas para o "homem" perder a virgindade : ou em bordéis, ou com alguma doméstica mais assanhada. Esta segunda hipótese, no meu caso, estava descartada, pois eu tinha em casa, como diria o Stanislaw Ponte Preta, duas venerandas macróbias, senhoras absolutamente impensáveis nesse sentido de atiçar a libido. Restavam, então, os bordéis, esses sim, abundantes no Rio de Janeiro, eis que para lá seguiam homens vindos de todas as partes do país.

Nas rodas de meninos da minha idade, se formavam dois grupos com diferentes status : aqueles que "já" e os que "ainda não" . E eu, com todos os meus catorze bem vividos anos, ainda formava no time do "ainda não" .

Foi quando um amigo, o Zé Português, me passou um telefone : era de uma senhora que "agenciava", digamos, programas de caráter sexual, programas esses que, em geral, eram consumados na própria residência da agenciadora. Verificada minha poupança, vi que possuia os fundos necessários para desfrutar do grande momento. Telefonei, coração aos pinotes, e, bem ouvidas as "bases" da transação, marquei a minha "visita", para o sábado seguinte, às 14 hs. O endereço era de um prédio famoso, que ficava na Rua Barata Ribeiro e que, muitos anos após, deu título a uma comédia teatral de grande sucesso, " Um Edifício Chamado 200 " .

Vale uma pausa na narrativa para dizer que esse prédio ( está firme, no mesmo lugar, até hoje ) tem 12 andares e cinquenta quitinetes por andar . Um corredor imenso e estreito, portas e mais portas, de um lado e de outro. A população predominante naquela comunidade era do pessoal que trabalhava, ou no setor de diversão, ou em restaurantes e bares. Teve até uma história que ganhou repercussão na imprensa : uma senhora ( também aposentados moravam no prédio ) , no corredor de um andar, foi atropelada e gravemente ferida por uma motocicleta !

Voltando ao nosso tema, dia e hora marcada, lá estava eu, tremendo de medo de um lado e com os hormônios explodindo de outro. Toquei a campanhia e uma mulher com os seus mal cuidados 50 e tantos anos, abriu a porta e perguntou o que eu queria. ( Naqueles anos dourados, não havia porteiros, nem muito menos interfones ). Lembrei a ela, gaguejando, que havia agendado um compromisso e coisa e tal. Ela me disse : " Entra. E arrematou : a menina que marquei para você, saiu ontem à noite e ainda não voltou ". Foi quando ela se dirigiu a uma moça que, de calça comprida e blusa, traje nada chamativo, no fundo do apartamento, lia, distraída, uma revista : " Marina, a fulana de tal não voltou, você "iria" com ele ? ". A moça baixou a revista, olhou para mim meio indiferente, meio curiosa, ( eu que, vermelho feito tomate, nessa altura já clamava a Deus que me mandasse um raio na cabeça ) e respondeu : "está bem" . Necessário dizer que o apartamento era de sala e quarto conjugados. Para separar a "sala" do ambiente íntimo, uma cortina de fora à fora mas que, obviamente, em nada inibia a propagação de ruídos.

Cortina fechada, a Marina ( a primeira vez a gente nunca se esquece ), morena clara, cabelos pretos, bonitinha de corpo e de rosto, uns dezoito anos, foi muito carinhosa e compreensiva comigo. Chegou a perguntar no meu ouvido, " primeira vez ? " e eu balancei a cabeça afirmativamente. Até hoje, e por todos os séculos, haverei de lembrar que a Marina tinha um cheiro bom, de creme hidrante, não perfume, mas creme hidratante, um odor que, para mim estará sempre vinculado à sensualidade. E a nossa intimidade se desenvolveu, pelo menos assim o senti, maravilhosamente, só sendo interrompida pela campanhia tocando. Nos vestimos, ela foi ao banheiro e eu fiquei com cara de bobo na sala, tratando rápido de acertar as contas do programa com a tal senhora. A Marina me levou a porta, sorriu e piscou um olho para mim. Eu arrisquei : " posso telefonar para você ? " e ela respondeu que sim.

Pois bem, saí dali numa situação absolutamente insólita : estava perdida e eternamente apaixonado pela Marina. Queria namorar, casar, formar uma família e ter filhos com ela. Mas, como ? só tinha catorze anos, nem o ginásio havia terminado ! Nos dias que se seguiram, só conseguia pensar numa coisa : Marina, Marina, Marina ..., ela me inspirava mais que uma outra Marina inspirou o Caymmi .

E não é que tomei coragem e telefonei para ela ? na terceira tentativa, consegui falar. E ela lembrava de mim, que maravilha ! Arrisquei, nem sei onde arranjei coragem, disse que queria vê-la novamente, mas não ali . E, não é que ela topou ? vocês deverão estar pensando : "mentira" , "mentira", a história dele é ficção . Mas, calma, há uma explicação : a Marina que o bom destino me reservou, ainda estava praticando o que se poderia denominar de "amadorismo marrom" . Ela era de uma pequena cidade do interior do Estado do Rio, de onde também vinha a sua "madrinha" . Estava ali, por uns dias, como que "sondando o ambiente", talvez num cruel "teste pré-vocacional" da vida, e isto me foi contado num banco da Avenida Atlântica, em meio a sorvetes da Kibon . Foi-se a Marina e com ela o "amor, posto que é chama" . Rendo-lhe, no entanto, os meus eternos agradecimentos por haver tornado um momento tão difícil e não raras vezes traumático para um menino, uma lembrança tão doce e tão agradável.