quarta-feira, 27 de maio de 2009

REPETIR OU CONHECER?


A maturidade nos faz acreditar que a virtude esteja muito mais próxima do meio, que das extremidades. O nosso temperamento, em especial quando na juventude, acaba fazendo com que, às vezes, resvalemos para um ou outro lado, não tem jeito.

Não, não me refiro aqui a questões políticas ou ideológicas e sim às mais prosaicas situações do nosso dia a dia. Eu sou do tipo que, se gosto, repito, e repito sempre, mesmo que reconheça na postura um tanto exagero.

Assim é que já fui capaz de almoçar durante anos a fio num mesmo restaurante, só mudando eventualmente de local, por conta de convites de amigos ou de compromissos profissionais. Gostava de conhecer toda a equipe da casa pelo nome, do porteiro aos garçons, maitre, chefe da cozinha, etc. Fiz isso no velho e saudoso Baiúca da Praça Roosevelt, próximo ao local onde trabalhava. O Baiúca, vou lembrar numa homenagem à história de São Paulo, funcionava durante o dia como restaurante e à noite, como um dos grandes redutos da melhor música popular brasileira . Da boa turma ligada à música no final dos anos 60 e durante toda a década de 60, não houve Vinicius de Moraes e Ellis Regina que não passasse pelo Baiúca e não foram poucos os dias em que eu almocei e voltei para jantar e curtir a noite por ali.

E outras casas também tiveram papel semelhante na minha vida. Nunca tive a menor curiosidade em sair conhecendo todos os novos lugares que surgiam, muito menos aqueles considerados como sendo "da moda" . Alíás, como disse uma vez um amigo de temperamento semelhante ao meu : " São Paulo é sempre dividido em duas espécies de gente, a que frequenta e a que não frequenta tal lugar e eu faço questão de estar no segundo grupo " .

Bem, se isso acontecia com restaurantes e casas noturnas, nunca foi diferente com cidades. Adoro voltar aos lugares que gosto, uma duas, três, sei lá, quantas vezes me for possível.

Durante o meu casamento fui, reconheço, ranzinza nesse particular. A minha mulher, fosse só por ela, não repetiria restaurantes, não repetiria viagens. Ao contrário de mim. Hoje, reconheço : nem tanto ao céu, nem tanto à terra . É verdade que, muitas vezes, eu conhecia algo novo e o aprovava. Mas quando não gostava, o que era mais comum, ficava rabugento, lamentando não ter ido num lugar já conhecido e aprovado. É, devo admitir, nesse particular fui ( ou sou ? ) um chato. E, contribuindo para isso, um sócio parecido comigo . Como saíamos muito juntos, pronto, o nosso "circúito" não era dos mais amplos, com certeza . Mas era impecável, perdoem a imodéstia.

Hoje, minhas escapadas são diferentes. Morando no Morumbi, por comodismo, em geral fico mesmo por aqui. Abro exceção para a Vila Madalena, região onde mora um primo muito querido, embora nos últimos tempos venha me encontrando com ele no tradicional e recém repaginado Pandoro ( inaugurado em 1953 ), um dos poucos lugares em que me sinto quase tão confortável como me sentia nos velhos tempos da Baiúca. Aliás, me permito fazer a sugestão à "velha - guarda" : caso não tenham ido ainda ver como está hoje o Pandoro, dêem uma chegada lá. Vale a pena !