terça-feira, 26 de maio de 2009

É PARA RIR OU PARA CHORAR?


As pessoas mais próximas a mim, sabem que eu sou um gozador, ou como dizem os paulistas, um "tirador de sarro". Também adoro uma boa piada, inclusive aquelas "proibidas para menores de 60 anos".

Só que, eu considero a gozação "uma arte", isto é, há momentos adequados e temas próprios para brincar com os outros. Muitos não possuem essa percepção e acabam se tornando desagradáveis, ou mesmo ofensivos, com as suas "tirações de sarro" fora de hora ou de um contexto correto. Como assim ? É fácil explicar e começo por um exemplo bem prosaico : o futebol, paixão nacional, é campo fértil para brincadeiras entre amigos. Suponhamos, no entanto, que você tenha um amigo corintiano fanático. Seria adequado telefonar para ele, para provocá-lo, em seguida àquele jogo que definiu a ida do Corinthians para a segunda divisão do campeonato brasileiro ? Não, de jeito nenhum ! fazer isso é um desrespeito, uma agressão a quem você sabe estar aborrecido, triste com um acontecimento que lhe foi desagradável. Aquela, decididamente, não era uma hora conveniente para fazer esse tipo de brincadeira.

Há outras gozações igualmente fora de propósito, como os tradicionais "você está bem gordinho, hein ? " ou, então, "já está na hora de você pensar numa peruca", ou "você está meio caidaço" e outras observações debochadas em cima de fatos que você sabe muito bem, já incomodam o suficiente o seu interlocutor.

A mim aborrece, igualmente, o mau gosto de algumas colocações. É muito comum recebermos pela internet, como sendo engraçadíssimos, filmes e fotos de pessoas que apresentam terríveis anomalias e deformações físicas que, longe de merecer chacotas deveriam, no mínimo, serem objeto de comiseração.

Há, nessa linha, um filme que volta e meia bate na minha caixa postal, como sendo uma cena hilariante : um pobre coitado, completamente embriagado, tentando pedalar uma bicicleta no que parece ser uma estradinha de interior e avança, sinuosamente, até finalmente se esborrachar no chão. Por favor me digam, há graça nessa cena ? eu não consigo encontrá-la. Pelo contrário, nada mais triste que ver um ser humano naquele deplorável estado de degradação. E não digo isso fruto de algum trauma pessoal. Felizmente, em minha família, desconheço a existência de um único caso de alcoolismo. Mas sei que um imenso contingente de pessoas e famílias convivem com esse tremendo drama e não consigo achar a embriaguês engraçada.

Então, insisto, há situações e momentos perfeitos para as gozações e brincadeiras mas devemos saber reconhecê-los. Na dúvida, melhor não brincar. Lembro que, quando eu era rapaz, começo de vida, comprei um automóvel, um verdadeiro "carrão" para a época e que consumia grande parte do meu salário no pagamento das prestações do financiamento. Era um "semi-novo" mas top de linha e fazia o maior sucesso. Um dia recebi a visita de uns amigos que não eram do Rio e, todo orgulhoso, os convidei a dar um passeio pela orla no tremendo "carango" ( "carango" era bem desse tempo ). Roda daqui, roda dali, de repente um barulhão e uma tremenda fumaceira no motor. Eu parei, lívido, só pensando no prejuízo que teria . Pois bem, até hoje guardo nos ouvidos as risadas desse meu amigo que sempre se considerou um exímio "gozador". Ele viu no fato e na minha aflição, algo que julgou engraçadíssimo . Estivesse no lugar dele, eu me mostraria solidário e aborrecido com a situação. Considero essas diferentes posturas algo que tem muito a ver com sensibilidade, nem sempre presente nos seres humanos que, em muitos casos, se divertem em ver a "desgraça alheia".