sexta-feira, 29 de maio de 2009

HIPNOSE É ÓTIMO, MAS PRA MIM NÃO SERVE...

Sexta-feira, outono paulistano como nos velhos tempos, garoa e frio, vou sair à noite com o casal de amigos Deise e Adão, garantia de boa conversa e gostosas risadas. Já que é assim, vou contar uma história bem light sobre a minha experiência com hipnose.

Lembrei-me do assunto por ter ouvido hoje no meu inseparável radinho, uma entrevista muito interessante sobre a hipnose, como sendo uma útil ferramenta no combate à dependência do cigarro.

Entre os padrinhos do meu casamento, estava um casal de amigos dos meus sogros, cujo homem era um médico de excelente conceito e inegável capacidade.

Comemorando o primeiro aniversário das bodas, oferecemos um jantar e esses padrinhos estavam entre os convidados.

Conversa vai, conversa vem, o médico comenta entusiasmado que estava concluindo um curso sobre hipnose e começou a explicar o quanto a hipnose era capaz de auxiliar no campo da medicina e veio com exemplos e mais exemplos sobre o assunto.

Foi quando ele resolveu deixar a teoria e partir para a prática e, com esse objetivo, necessitaria de um "voluntário" . Como ninguém se apresentou, ele não se deu por vencido e resolveu escalar alguém para a missão. Quem ? Eu ! Tinha de ser ...

Formou-se um mini-auditório e, à frente, o médico, já então um senhor, e eu, à época um garoto de 23 anos. Fui devidamente sentado numa cadeira para início da apresentação. O meu hipnotizador determinou que eu respirasse fundo e soltasse o ar, vagarosamente, algumas vezes. Mandou em seguida que fechasse os olhos e descansasse os braços em cima das pernas. Aí, ele disse, "suas pálpebras estão ficando pesadas, seus braços também ... " . Ele não perguntava, simplesmente afirmava . Enquanto isto, eu não sentia nada, absolutamente nada, nem as pálpebras pesadas, nem muito menos os braços. Mas, fazer o quê ? achei que interromper a convincente explanação daquele senhor, seria como desmoralizá-lo, diante daquela pequena platéia que se mostrava vivamente impressionada com a sessão de hipnose.

Foi quando pensei, não tem jeito ! Vou manter esta farsa enquanto me for possível, paciência ! Aí, entrou o capítulo "DOR" . Quando ouvi o meu respeitável padrinho afirmar aos presentes que ele me faria não sentir dor, conclui : estou perdido !

Depois de balbuciar para mim que eu estava insensível a dor, foi iniciada uma "sessão de tortura" e eu fiquei impassível, olhos fechados, sem mover um músculo e o doutor a arrancar pequenos tufos de cabelos dos meus braços, a me futucar com uma agulha que antes fora feita em brasa, o hipnotizador cada vez mais empolgado com o sucesso da demonstração e eu rezando a todos os santos, implorando pelo fim do suplício.

Tive que fingir não conseguir tirar os braços de cima das pernas, não mexer com os pés que "estavam mais pesados que chumbo" e nem me lembro mais quantos papéis protagonizei, diante de uma assistência estupefata .

Definitivamente provadas as potencialidades da hipnose, houve todo um ritual "para me fazer voltar a onde nunca saí" e eu firme, impecável no desempenho do papel que o destino me havia reservado.

Não preciso dizer que o assunto, até a saída do último convidado, foi a hipnose. Quando, finalmente, me vi a sós com a minha mulher, pude desabafar com ela, contando a absurda situação que havia passado. Ela perguntou : " Por que você não falou ? " Eu respondi : " Ele não me deu chance ! " . E, então, rimos à vontade do insólito ocorrido.

O nosso padrinho era nota dez em medicina, mas em matéria de hipnose não estava com nada. Só sei que, dali em diante, se o assunto era hipnose, eu ia saindo de fininho .