quarta-feira, 13 de maio de 2009

DIA 13 DE MAIO DE 1888


Por vezes, me ocorre a indagação : há cem, duzentos ou 300 anos, o ser humano era melhor ou pior do que hoje ? o que me faz colocar em pauta a questão, é constatar as barbaridades, as injustiças, a violência, a miséria, a fome, o ódio, o terrorismo, os preconceitos, a falta de liberdade e de oportunidades que ainda perseveram em pleno século XXI . É verdade, muitas situações lamentáveis continuam acontecendo e, por isso, quando vi um negro ocupando a Casa Branca, assumindo o comando do país mais poderoso do planeta, o meu coração se encheu de esperança : o combate a todas essas mazelas se tornará mais contundente, pois ninguém mais que um negro americano poderá avaliar o quanto terrível é o preconceito e o ódio gerado por esse injustificável sentimento.

Enquanto reflito sobre esse tema, volto ao meu tempo de escola, quando o dia 13 de maio era intensamente comemorado, por lembrar a data em que a nossa princesa regente Isabel encerrou definitivamente o período de escravidão de negros no Brasil. Hoje, a data já não merece o mesmo entusiasmo por parte dos movimentos negros, pois eles consideram que o ato da princesa Isabel representou uma conquista jurídica, mas os negros prosseguem até hoje sendo socialmente marginalizados e vítimas de preconceito.

Não compartilho inteiramente desse ponto de vista. O preconceito preponderante na sociedade brasileira de hoje é em relação a pobre, seja ele preto, pardo ou branco. O negro bem posicionado na vida, vitorioso, é recebido com todas as honras e em todos os ambientes. E, para citar um exemplo de negro bem sucedido, que tal o nosso ministro do STF Joaquim Barbosa ? alguém torceria o nariz ao encontrá-lo num restaurante, numa reunião social, num avião, ou mesmo num shopping, se é que ele frequenta esses centros de compras ? agora, coloquem nesses mesmos locais um indivíduo de raça ariana, bem ao gosto de Hitler, e de olhos azuis, bem ao gosto de Lula, só que mal trajado, com aspecto de "não passar de um pé de chinelo" e aguardem as reações de desprezo, que elas virão .

Acontece que há um percentual muito maior de pobres e "mal sucedidos" entre os negros que entre os brancos e o descolamento dessa característica ( negro = pobre ) se revela muito mais lento do que seria desejável. Vamos ver se o "fenômeno Obama" é capaz de fazer acelerar esse processo.

Mas daí a considerar que a situação não melhorou e muito, dos tempos da escravidão para hoje, da época do tráfico de escravos para o Brasil, quando os negros eram "capturados" e "comercializados" em postos de venda de escravos na costa atlântica da África e trazidos para o Brasil em navios negreiros, meu Deus do céu, é não querer enxergar o óbvio.

Nas aulas de história do Brasil que recebia no primário, me contavam que famílias de negros eram separadas como sendo "peças" ou "cabeças" , e cada qual avaliado e vendido pelo seu potencial físico de trabalho, o que me horrorizava. Só de Angola, foram trazidos um milhão de negros, inacreditável.

E, o mais espantoso, é que as elites da época aceitavam aquela situação como se fosse natural. Os negros eram vistos como gado, ou mercadoria. Então, ufa ! Não há como negar, se hoje somos muito piores do que deveríamos ser, já houve tempo em que a humanidade conseguia ser ainda bem mais insensível em seu comportamento.

Continuo, portanto, de minha parte, comemorando o 13 de maio com o mesmo entusiasmo de criança. Em meu nome e no dos nossos negros, queiram eles ou não .