quarta-feira, 20 de maio de 2009

NÃO ME UFANO MUITO DO MEU PAÍS


Peço licença a um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, Afonso Celso de Assis Figueiredo, para dele discordar nessa questão de ufanismo pátrio. E, para poupar vocês hoje de temas políticos, vou abordar outro aspecto da nossa cultura.

A quem vier com aquele bordão dos tempos do regime militar, o tal " Brasil : Ame-o ou Deixe-o ! " , Respondo o seguinte : uma coisa é amar, outra bem diferente é se ufanar . Claro, nasci aqui e aqui pretendo morrer, encontro coisas fantásticas por aqui, mas nem por isso abro mão de criticar, de me entristecer e revoltar com o que vejo. E, viajar, para mim, só vale a pena para países mais ricos em matéria de civilização que o nosso. Acho uma perda de tempo sair daqui para ver outras praias, outras florestas ou paisagens exóticas. Isso, nós temos em abundância. Nos falta ainda, em muitos casos, infraestrutura. Estamos progredindo, porém, com a crescente instalação de hotéis e resorts com padrão de primeiro mundo.

O que mais nos falta, no entanto, é EDUCAÇÃO , primeiro requisito da CIVILIZAÇÃO. E, a ausência de educação, no nosso caso, não é "privilégio" das classes "d" e "e". O brasileiro, na sua grande maioria, é mal educado e passa longe dele perceber que "o nosso direito acaba, quando começa o dos outros" .

Querem um exemplo ? observem o comportamento da "galera" brasileira em um aeroporto internacional. Você está numa sala de embarque aguardando um vôo e se sucedem as chamadas de passageiros com destino aos mais diferentes pontos do planeta. As pessoas, ao ouvirem a convocação do seu vôo, levantam-se calmamente e se dirigem à fila do respectivo portão. Eis que são chamados passageiros com destino ao Brasil. Mesmo com os assentos pré-marcados, forma-se um alarido e segue-se uma espécie de "salve-se quem puder, em direção ao local de embarque" . Parece até que quem entrar primeiro no avião vai chegar mais cedo ao destino. Quem não conhece bem esse "estilo brasileiro de ser" até se assusta com a balbúrdia, imaginando que o tumulto decorre de alguma situação de emergência, "uma bomba, quem sabe ? ".

Mas, essa nossa elite emergente desembarca no Brasil e vive o seu dia a dia : passeia com o cachorro e, com ar de paisagem, assiste ao pet fazer o seu cocô na calçada sem lhe passar pela cabeça recolher o dejeto. Depois, o dono do totó vai ao Shopping e estaciona o seu automóvel em vaga destinada a deficientes ou idosos. Não satisfeito, se senta com os amigos na praça de alimentação e fala aos gritos, nem percebendo que incomoda as mesas vizinhas. Resolve ir ao cinema e, quando vê um amigo lá na frente da fila, não se inibe em pedir para ele comprar o seu ingresso, sem dar a mínima importancia para os que chegaram ali antes dele.

E esse comportamento prossegue em todas as ações do nosso herói tupiniquim : joga lata de refrigerante pela janela do carro, não respeita os farois de trânsito, segura a porta do elevador enquanto bate-papo com um vizinho, liga o som de casa a todo volume, enfim, toca a vida como se o mundo existisse apenas para serví-lo.

Mas, infelizmente, as nossas mazelas não param por aí . Tente um atendimento nos call centers colocados à nossa disposição por prestadoras de serviço e não se estresse se for capaz. E tpretender a substituição, mesmo em período de garantia, de peças de automóveis, aparelhos eletrodomésticos, telefones celulares etc. ?

Ou seja, mesmo em relação às chamadas classes privilegiadas, viver no Brasil é um constante exercício de paciência e resignação.

E os pobre coitados que pegam metrô, ônibus e trem, se servem da saúde pública, moram mal e longe, ganham pouco, perdem o emprego, não conseguem matricular os filhos em escolas perto de casa, etc., etc., etc... Essa turma tem como achar que o Brasil é um paraíso ? não, não tem. A sorte é que esse pessoal não dá uma circulada "lá fora" para fazer comparações e aprender como funcionam os países civilizados.

Eu gostaria apenas de perceber que se estamos longe do que seja "primeiro mundo", pelo menos rumamos nessa direção. Mas não é o que percebo em nosso dia a dia. No aspecto "educação" principalmente as coisas só pioram.

Volta e meia assisto a debates sobre se deveria haver aulas de educação sexual e religião nas escolas . Deixo a questão por conta dos especialistas. Estou certo é que nos faria muito bem se em toda a rede escolar fosse obrigatoriamente incluída a matéria "educação e civilização" , desde o período de alfabetização até a conclusão do curso universitário.