quinta-feira, 7 de maio de 2009

A COMPOSTURA ANDA SUMIDA

Não se veja aqui nenhum viés de pregação moralizante que não é o caso. O questionamento é meramente de ordem prática. Hoje, o brasileiro que lê jornais ou assiste aos noticiários da televisão, se depara com notícias em cascata, dando conta de sucessivos casos de desmandos em todos os nossos poderes constituídos.

O Presidente da República, em seus pronunciamentos, não vê problema nenhum em dizer a nação "que todo mundo faz", ao se referir aos "caixas dois" das campanhas eleitorais, ou a considerar "hipocrisia" o posicionamento da imprensa e a revolta da sociedade consciente, diante da chamada "farra aérea", que significa o uso de recursos públicos pelos parlamentares, com o propósito de comprar bilhetes aéreos para parentes, namoradas, correligionários, etc. , inclusive em viagens turísticas a países do primeiro mundo. Chocou, também, a forma leniente com que se costuma postar o nosso presidente, diante de desvios de conduta de políticos aliados.

Ver as coisas dessa forma é uma postura de caráter eminentemente pessoal. Mas uma autoridade, em especial um presidente da República, se tem o direito de pensar de acordo com o seu próprio código de ética, não tem o direito de expressá-lo à nação, pois a sua palavra e os seus atos, possuem um devastador efeito na formação de conceitos.

Eu, pessoalmente, conheci muito bem uma entidade que foi séria, respeitada e citada como exemplar, até mesmo pelos que então faziam oposição ao governo. Seus principais gestores eram competentes e corretos, faziam um excelente trabalho e a equipe que lhes dava apoio, interagia com a cúpula, respeitando ( alguns temendo, é verdade ) as posturas prevalecentes.

Troca o governo e muda completamente o perfil dos chefes maiores. Os que chegaram, ou eram incompetentes, ou nada éticos, alguns até, reuniam as duas características. Os principais remanescentes da admnistração anterior, foram tragados pela nova forma de administrar. A equipe técnica de sustentação, percebendo a "mudança de ares", teve reações diferentes : alguns optaram por sair, outros se contraíram, permanecendo numa espécie de limbo, enquanto um terceiro grupo aderiu com entusiasmo àquela espécie de "liberou geral " : "Se eles fazem, por que eu não vou fazer ? " . E um verdadeiro gigante, considerado por muitos como "indestrutível" foi tendo as suas estruturas corroídas progressivamente até que naufragou como uma espécie de transatlântico Titanic da área de desenvolvimento social.

A "historinha" acima, é para mostrar que a postura da cúpula tem um forte efeito nos escalões inferiores. O presidente de um país é como o maestro de uma orquestra. Cabe a ele dar o tom aos seus músicos. Seria muito útil, portanto, um cuidado maior com os improvisos, com os atos, com as demonstrações explícitas de tolerância com práticas nada recomendáveis.

A quem pretenda rebater esse tipo de ponto de vista, com justificativas de que o país está forte o bastante para resistir muito mais que outros aos efeitos da crise mundial, que houve uma melhor distribuição de renda, um significativo aumento da mão de obra formal e alguns outros pontos positivos que reconheço, por não ser cego nem burro, eu indago : " Ora, se com todos os desvios de conduta dos poderes da República, como vêm sendo diariamente denunciados e comprovados o país, ainda assim, cresceu e progrediu, como estaríamos se os nossos mandatários fossem inflexíveis na cobrança de compostura e na exigência de punição aos que não tratam com o devido zelo os recursos públicos, pouco importando se são eles "da base", "companheiros" ou sei lá mais o quê ?