sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A VIDA APÓS A MORTE


Tenho uma postura exótica diante da morte. Fui criado em família católica, dessas de não faltar às missas dominicais. O meu pai, quando ficou viúvo aos 50 anos, foi aos poucos deixando de frequentar a igreja, embora jamais esquecesse de pendurar com alfinete, nos bolsos internos dos paletós, uma carreira de medalhinhas dos seus santos de devoção, liderando a fileira um Agnus Dei. Também o flagrava, às vezes, fazendo o Sinal da Cruz, ou numa atitude contemplativa que me sugeria estar orando.

Eu, que na juventude fui um bobalhão ( e vou morrer sendo, em algumas coisas mais, em outras menos ), achei de me considerar algo na linha do materialismo dialético, embora nem fosse capaz de bem definir o que viria a ser dialética. Mas, mesmo nesse tempo, jamais admiti desrespeitar a Igreja Católica e abominava ouvir piadas desairosas a Jesus Cristo, Nossa Senhora, os santos, etc.

Sempre tive uma sincera admiração, talvez até uma pontinha de boa inveja, se é que inveja pode ser boa, aos que possuem fé inabalável num pós-vida quando, após a morte cerebral, o espírito prossegue vivendo só que em outro plano. Mas, de minha parte, não me consigo imaginar tendo quando morto um destino diferente dos meus cachorros, dos passarinhos, das baratas, ou de qualquer ser vivo que habita esse nosso planeta. Ao contrário do que pode sugerir, a minha postura não reflete sobeja e sim humildade, diante do que considero ser os humanos - finitos.

Agora, vem a contradição : acredito fervorosamente em Jesus Cristo, na sublime missão que há dois mil anos cumpriu na Terra, tenho imensa e inquebrantável fé em Nossa Senhora, respeito profundamente a figura do Sumo Pontífice, e não me separo de uma pequena imagem de Nossa Senhora de Fátima, que me foi presenteada pela amiga Deise. Faço minhas orações diárias e não me canso de atribuir à Fátima as imerecidas graças que me são concedidas.

Esta maneira de sentir a vida e a morte faz o meu psicólogo preferido, Domingos Rezende, fundir a sua cuca freudiana : " isto é um paradoxo, uma incoerência, não faz sentido ! " . Mas, o que posso fazer ? fé numa vida após a morte não é algo que seja adquirido nas melhores casas do ramo. A todos que a possuem, passo o aviso : com o "prestígio" de que são detentores, consigam a transferência de um pouco dessa fé para o pobre coitado aqui pois, em toda a minha vida que já se faz longa, nunca vi infelizes entre os que acreditam ... .