quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

AS TAIS IGREJAS EVANGÉLICAS


Sei que vou abordar um assunto delicado mas o tema, pela sua atualidade e dimensão, merece ser visto por todos com merecida atenção. Diga-se logo que a generalização é sempre irmã inteira do erro e admito a existência de algumas (poucas} exceções nesse meio. A maioria, no entanto, é só perder algum tempo assistindo aos tais programas evangélicos na televisão ou no rádio, para se concluir que a boa fé, a crendice, o desespero,a fragilidade e os medos das pessoas, transformam os tais pastores, missionários, bispos, apóstolos e sei lá mais o quê, em detentores de uma espécie de franquia de Jesus Cristo vendendo saúde, progresso material, felicidade conjugal, liberação da dependência do álcool e das drogas, tudo a custa de grana e com a conjugação do mantra : "a fé é capaz de tudo e quanto maior for a fé, maior deve ser a doação".

Há quem diga que essas igrejas são responsáveis por tirar da marginalidade, ou do descaminho social, verdadeiras multidões. Mas a observação do público predominante nos tais cultos televisivos não passa a impressão de que aqueles homens e mulheres maduros que se constituem a maioria dos contritos fiéis, caso ali não estivessem, poderiam nos atacar nos faróis de trânsito, traficar drogas ou ingressar em agências bancárias portando metralhadoras.

Vivi e ainda vivo, muito próximo, uma experiência dolorosa. Tenho um irmão que, com 52 anos, sofreu um AVC de grave extensão. Sendo ele, até então, uma pessoa extremamente independente se viu, de um dia para outro, com o lado esquerdo do corpo quase sem movimentos. É uma provação duríssima e poucos são os que conseguem sobreviver psicologicamente ao impacto. Pois o meu irmão no início desse processo buscou, obsessivamente, se recuperar, por meio de fisioterapia, tratamentos médicos, enfim, tentando todo o arsenal que a ciência e a tecnologia lhe punham ao alcance. Percebendo que a sua evolução era muito pouco significativa e presa de imensa fragilidade emocional, aceitou ele convite de um dos seus cuidadores : buscar a cura para os seus males numa igreja evangélica.

No início, até que fui conivente com a história. Vi o meu irmão ( que é solteiro e sem filhos ), animado, saindo de casa para ir à igreja, recebendo visitas de um tal pastor, etc. Até que um primo me deu o alerta : é bom você dar uma olhada nas aplicações financeiras do seu irmão.O que percebi foi um desastre. Ele, uma das pessoas mais corretas e equilibradas que conheci na vida, sempre um cuidadoso poupador das suas sobras financeiras, estava não somente reduzido a zero em suas aplicações como "pendurado" nos cartões de crédito e nos "cheques especiais". Tive uma conversa séria com ele, quitei esses débitos, e passei a a cuidar pessoalmente das suas finanças.

Por uma estranha coincidência, as visitas do tal pastor rarearam e acabaram desaparecendo. Suas constantes idas à tal igreja, onde era sempre festejado, igualmente deixaram de existir. Hoje suas relações com a igreja evangélica acontecem pela televisão. Mas continua ele tendo a mais absoluta certeza de que se ainda não foi curado é por não ter tido a fé necessária. Quando tiver essa fé, terá o merecimento, se levantará da cadeira e sairá andando como há catorze anos, antes do derrame.

Quanto a essa igrejas, não desejo que sejam fechadas, perseguidas, nem, muito menos, incendiadas. Não pretendo reviver a inquisição. Mas que um rigoroso controle das entradas e saídas de dízimos e contribuições coibiria muita picaretagem, não tenho a menor dúvida.