terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

UM GRANDE CONTADOR DE HISTÓRIAS

Fotos G. Ermakoff

Há pessoas que possuem um especial talento para contar histórias. Elas falam e as cenas vão surgindo em nossas mentes, como se fossem um filme. Ele sabia contar sobre o Rio de Janeiro das décadas de 20 a 50 do século passado, com uma deliciosa riqueza de detalhes e isso me tornou fascinado por aqueles que talvez tenham representado os melhores momentos da mais bela cidade do mundo.

O Rio de Janeiro era, então, a capital federal, abrigava um imenso contigente de funcionários públicos bem remunerados e ali estavam a Câmara e o Senado com políticos abastados e fazendo atrair ao Rio todos aqueles senhores não menos abastados que gravitavam em torno do poder.

Estrangeiros que ali chegassem, dispostos a encarar o trabalho, tinham assegurado não demorar muito no rito de passagem de empregados a gerentes e, sem maior retardo, a donos do estabelecimento que começava modesto e crescia rapidamente nas mãos de quem vinha dos mais diversos países que tinham em comum as grandes dificuldades.

Os brasileiros de todas as outras paragens, possuindo recursos financeiros, acorriam ao Rio nos vapores de então, prontos a conhecer e comprar as novidades vindas da Europa e da América.

A beleza era a de hoje para melhor, pois o homem, só a partir do final da década de 40 , espetou os seus "paliteiros" pela orla de Copacabana. O restante da natureza ou era ainda intocada ou havia sido restaurada, caso da Floresta da Tijuca, maior extensão de área verde urbana do mundo.

A violência não existia. Era um tempo em que "só se matava por amor", se é mesmo possível alguém matar por amor.

O centenário da Independência, comemorado em 1922, quando os principais países do mundo construíram fantásticos pavilhões que foram, posteriormente, doados ao Brasil, a Praça Paris nos moldes das européias, o Hotel Glória com o mar batendo às suas portas, o Cassino da Urca por onde passaram as maiores atrações do show business de então, o Hotel Copacabana Palace como que transportado diretamente do Principado de Mônaco para a orla carioca, a inauguração do Cristo Redentor, salvo erro de minha lembrança, tendo suas luzes acendidas por Marconi, o inventor do telégrafo sem fio, diretamente da Itália, o que causou grande comoção à época. O Rio de então era só beleza, charme, glamour, com os elegantes da época desfilando pela Avenida Rio Branco e tomando chá na Confeitaria Colombo que, milagrosamente, sobrevive até hoje na rua Gonçalves Dias.


O homem, é verdade, faz o possível para acabar com a beleza do Rio. Agressões e mais agressões à sua privilegiada natureza lhe foram e continuam sendo perpetradas. Esvaziaram a cidade o quanto possível, com a transferência da capital, do poder e do dinheiro para Brasília. Mas o Rio é muito mais que os poderosos de ocasião e vem resistindo bravamente a tudo e a todos, graças a Deus e, às vezes, até parecendo mais bonito ainda. E assim será por todo o sempre, amém . Ao meu saudoso sogro Apollo Amorim, agradeço ter despertado em mim todo o carinho que hoje guardo por essa cidade onde morar se constitui numa benção aos olhos e à alma.