sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

FECHANDO A SÉRIE "ÍDOLOS DE INFÂNCIA"

Contei ontem a minha relação de afetividade com o goleiro do Fluminense, Castilho, meu maior ídolo de infância, sem dúvida. Mas cometeria uma grande injustiça se negasse homenagem ao melhor jóquei brasileiro de todos os tempos, Luiz Rigoni, a quem meu pai, turfista apaixonado, dedicava grande admiração e, ao contrário do acontecido no futebol, transmitiu a mim e ao meu irmão todo o sentimento que tinha pelo grande piloto paranaense.

Quem vai ao Hipódromo da Gávea hoje ou, muito pior ainda, à Cidade Jardim e os vê às moscas, frequentado apenas por pequenos grupos de velhos turfistas, não faz idéia do que já representou este esporte para o nosso país, em especial para o Rio de Janeiro e
São Paulo.

No Rio, onde eu morava, o turfe dispunha, na década de 50, de páginas inteiras nos cadernos de esporte de todos os jornais, as corridas de cavalo eram transmitidas pela televisão e por algumas rádios, os programas especializados eram diários, enfim, depois do futebol, em matéria de popularidade, vinha o turfe sem dúvida.

As corridas, em dias normais, já eram extremamente concorridas. As três grandes tribunas existentes no Hipódromo da Gávea ficavam cheias a ponto de haver sempre público de pé assistindo aos páreos nas escadarias de acesso.

Para a criançada, ir ao Jockey era uma festa. Ficavamos grudados na cerca quando os páreos eram corridos na grama pois, no cânter, os animais eram conduzidos pelos seus jóqueis, junto à grade onde estávamos para, a certa altura, virarem no sentido contrário e iniciar o galope de apresentação. Talvez motivados pelos filmes de faroeste, em grande moda então, a meninada era totalmente vidrada em cavalos. Ver os animais "puro-sangue" bem de pertinho era fascinante.
Além disso, na Gávea , você podia atravessar um túnel que passava por baixo das pistas e ir assistir de perto à movimentação de todas as largadas, com os animais sendo colocados não em boxes, como hoje, e sim atrás de umas faixas chamadas de cintas que eram acionadas pelo starter ( uma espécie de juiz de partida ), deixando a pista livre para os animais.

A molecada gostava também de ficar no paddock, local onde os animais passeavam até os seus jóqueis receberem ordem para montar e para onde voltavam, ao final dos páreos, quando eram feitas as verificações regulamentares.

Para o programa ficar completo, havia sempre uma grande quantidade de crianças inventando inúmeras brincadeiras (na época, eu tinha amigos vizinhos, amigos do colégio e amigos do jockey) para não falar dos sorvetes da Kibom, cachorro-quente e pipoca.

Bem, mostrado o cenário festivo do turfe de então, vamos ao ídolo : LUIZ RIGONI, o maior jóquei brasileiro de todos os tempos, pelo menos no imaginário dos turfistas que o viram pilotar, eis que temos hoje atuando em Buenos Aires ( lá o turfe não acabou ) o nosso Jorge Ricardo, recordista mundial de vitórias.

E, de Rigoni, a primeira lembrança que guardo, é a do Grande Prêmio Brasil de 1954, quando eu tinha oito anos e o vi ganhar o páreo, montando o argentino El Aragonês, numa eletrizante atropelada em cima da égua Joiosa. A comoção do público foi de tal forma contagiante que, a partir daquele momento, não resisti e passei a me engajar no coro, a cada páreo em que o Rigoni iniciava a sua atropelada : Dá-lhe Rigoni !

Mesmo sem jogar um tostão, é óbvio, torcia pelo Rigoni de forma parecida como torcia pelo goleiro Castilho. Vibrava quando o via campeão das estatísticas, sofria ao vê-lo cair do dorso de um animal, acompanhava interessado a sua lenta recuperação de uma queda que o deixou 8 meses hospitalizado.

Só que, do saudoso Rigoni, não guardo comigo a tristeza de com ele nunca haver conversado. Tenho até uma Revista de Turfe autografada pelo Homem do Violino e não esqueço de uma tarde, pouco tempo antes do falecimento do mestre, quando a amiga Beth Salles touxe o sempre risonho e simpático Luiz Rigoni para bater um longo papo comigo, em seu camarote nas sociais de Cidade Jardim . Naquele dia, pude enfim perceber que os nossos ídolos de infância, mais que personagens, são feitos de carne e osso como a gente.