sexta-feira, 20 de março de 2009

A VELOCIDADE TECNOLÓGICA

No final do milênio passado um amigo me mostrou um livro que estava lendo, onde era demonstrado que a tecnologia havia avançado mais nos últimos cinquenta anos que do nascimento de Jesus até 1945, ou um ano próximo, já não me lembro exatamente.

De fato, se voltar os olhos para a evolução tecnológica verificada da época em que nasci para hoje, o resultado é assustador. Aos que, como eu, não possuem talento para se adaptar rapidamente aos avanços da modernidade, a tendência é ir ficando para trás, correndo o sério risco de viver isolado os seus últimos dias, como um Róbson Crusoé do século XXI . ( Para os mais jovens, explico : Róbson Crusoé é o protagonista de um clássico livro de aventuras, de autoria do escritor Daniel Defoe, contando a história de um marinheiro britânico, único sobrevivente de um naufrágio, havendo chegado e vivido numa ilha totalmente deserta . )

Para dar um exemplo prático das minhas limitações ( ou indisposições ), atravessei toda a era do vídeocassete conseguindo, num máximo esforço de aprendizado, introduzir uma fita no aparelho e acionar as teclas "play", "stop" e "eject". Programar a gravação de um jogo de futebol para assistí-lo mais tarde, quando chegasse em casa, nem pensar. Para mim, isso exigia um cérebro de Einstein. E o vídeocassete chegou, permaneceu por umas duas décadas e desapareceu sem que com ele eu houvesse desfrutado da menor intimidade.

O telefone celular, por exemplo, que hoje está integrado ao ser humano como se fosse um braço ou uma perna, para mim continua sendo um objeto muito estranho. Em casa, ele vive desligado. Ora, se aqui tem dois telefones fixos, para que deixar o meu celular ligado ? outra, quando saio, acabo esquecendo de levar o maldito e quando o levo, sempre num bolso da camisa e o bicho toca, tomo sustos horríveis, sou capaz de bater o carro. Volto para casa e esqueço o aparelho ligado até descarregar a bateria. Quando me perguntam : "qual o número do seu celular ? " fico embaraçado e puxo a carteira, onde levo documentos, para procurar um papel onde está anotado o número, me justificando com um ar de idiota : "é que nunca telefono para mim mesmo" .

Passo o número ao meu interlocutor para não parecer que o estou sonegando, mas me vejo forçado a confessar : " olha, eu não tenho o hábito de verificar se há recados em minha caixa postal " . Isto porque era comum me cobrarem : " Pô, deixei dez recados em sua caixa postal e você não me retornou ! ".

No computador e na internet ( para mim um não existe sem o outro ), mal e mal consegui me tornar uma espécie de semi-alfabetizado. Acesso a minha caixa postal ( um grande avanço em relação ao celular ), escrevo e-mails, navego pelos sites que me interessam e paro por aí.

Os meus filhos, como todos da geração deles, vão fundo nessa história de computador. Só que eles não têm muita paciência para ensinar nem eu, muito menos, para aprender. Por sorte, tenho um genro que é web designer e, não sei se mais paciente por temperamento ou mais cerimonioso por educação, me socorre em todas as frequentes agonias na informática. ( Como moramos no mesmo prédio, as soluções estão sempre à mão ) .



As demais geringonças, do tipo ipod, máquina fotográfica digital, pen-drive e tantas outras, nem chego perto. Continuo fiel ao radinho, seja aquele de fone de ouvido, seja um maiorzinho que permanece ligado o dia inteiro. Sou, portanto, um rádio-ouvinte, alguém conhece algo mais "homem das cavernas" que isso ?

E o automóvel ? costumo ficar com os carros por três anos e os vendo sem nunca ter sabido para que servem metade dos botões que estão plantados ali no painel.

Não é por outra razão que me sinto como se estivesse num navio que deixou o porto e fosse vendo o continente sempre mais distante, até que vai chegar uma hora em que ele desaparecerá da minha visão. Acho que é o mal de estar chegando aos 63 "aninhos" . Observo com a maior admiração os coroas como eu que conseguem acompanhar todos esses velozes movimentos da modernidade mas, paciência, papai do céu me fez assim e não vou afrontar a natureza .