quarta-feira, 18 de março de 2009

AS GRANDES SINECURAS


Eu tenho um amigo, Marcelo Lefèvre, que mantém um site sobre turfe (www.pegapelorabo.com.br ). É interessante como alguns turfistas reclamam dele dizendo : " Pô, mas você só sabe criticar ! " . O pobre Marcelo explica que tudo o que gostaria, em matéria de turfe paulistano, era elogiar à exaustão, mas como ? elogiar o quê ? O Jockey Club de São Paulo é dirigido com mão de ferro por um senhor que conseguiu chegar à Presidente da entidade sem que tivesse em seu currículo nada que verdadeiramente o vinculasse aos puros-sangues e às corridas de cavalos . O homem só se preocupa com festas, badalações a políticos e, principalmente, com a sua promoção pessoal. Enquanto isso, o esporte desce ladeira a baixo, com dívidas de todo o tipo, imóveis penhorados, número decrescente de criadores, proprietários e frequentadores do belíssimo e decadente Hipódromo de Cidade Jardim. Só mesmo uma grande administração, e de turfistas, será capaz de evitar um cada dia mais próximo encerramento das atividades do Clube.

Mas o Presidente da tradicional entidade insiste em manipular números, ocultar situações e faz um discurso após outro sempre afirmando que, fruto da sua gestão, o turfe se encontra em franco processo de equilíbrio financeiro e da conquista de um crescente número de adeptos. Tudo a mais deslavada maquiagem da verdade. Como podem querer que o meu amigo Marcelo Lefèvre ( não confundir com o seu quase xará Marcel Lefebvre, um tremendo reacionário, religioso católico francês, em boa hora já falecido ) possa elogiar essa pândega ? No último sábado, em Cidade Jardim, o jóquei Jorge Ricardo, radicado na Argentina e campeão mundial de vitórias, sofreu um grave acidente de pista, o que o levará a permanecer em recuperação por um longo período. Exceto uns poucos turfistas remanescentes, quem tomou conhecimento desse fato ? Só os argentinos, pois por aqui não se deu a menor importância ao assunto .


E, o que tem o Marcelo Lefèvre com a minha história ? É o seguinte : não gostaria que o blog pensandoerepassando.blogspot.com se tornasse um espaço amargo, voltado para a crítica, para o negativo. Só que, como já repeti algumas vezes, notícia boa está difícil, muito difícil. A gente abre os jonais e lê : A nossa Câmara Alta, o Senado Federal, tem em sua estrutura 136 diretores que ganham, em média, salários próximos a R$ 20 mil . O número de servidores da Casa, só entre os comissionados e concursados , é de 6.500. E tome automóvel com motorista, tome telefones celulares, tome passagens aéreas, tome apartamentos funcionais, tome gráfica para divulgação de suas atividades, tome verba para despesas com o exercício do mandato, tome plano de saúde vip, tome direito à aposentadoria parlamentar, tome contratação de funcionários, tome escândalo de pagamento de R$ 6,5 milhões em horas extras de servidores durante o recesso, tome o pagamento de quinze salários anuais, tome 3 meses de recesso por ano, tome semana de três dias de trabalho e mais outros "tomes" que não sei ou que deixei escapar. Gente, tudo isso aí é legal e de direito. O mais idôneo dos nossos senadores, aquele incapaz defender banqueiros, de nomear diretores de estatal de "sua cota", de interferir no Orçamento para emplacar a(s) obra(s) do amigo-empreiteiro, enfim, um "senador-santo", do tipo Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos ou Eduardo Suplicy, sempre citados como exemplos de integridade, possuem o mais legítimo direito de desfrutar dessas benesses.

Ontem, quando o assunto aflorou, as manifestações dos nossos senadores foram soberbas : " Alguns se declararam indignados, exigindo imediatas medidas saneadoras na Casa ( como se, iguais ao Lula, não soubessem de nada ). Os aliados de Sarney acusam o PT de estar tentando enlamear o Senado com essas denúncias de "coisas sem importância" , tudo por conta das derrotas de Tião Viana (PT - AC ) e de Ideli Salvatti ( PT - SC ) ".

Mas, se a nossa Câmara Alta é desse jeito, imaginem a Câmara Baixa ! Imaginem o Executivo e o Judiciário , os Estados e os Municípios. Dá para acreditar que sejam diferentes ? Olha, creio até que se tenha nesse nosso País, as exceções de praxe.

Mas a impressão é que, assim como o capitalismo sem mecanismos de controle, o nosso Estado carece de uma assepsia em regra. Haverá chance de vê-la aplicada ?