sexta-feira, 13 de março de 2009

MADOFF : CRIMINOSO OU HERÓI ?


O misto de financista e ilusionista Bernard Madoff, com a sua "pirâmide-mágica", conseguiu iludir e provocar um verdadeiro horror na elite do capitalismo mundial. O mais interessante é que ele não criou nada de novo ou desconhecido. A tática já vem sendo usada há muito tempo e é de uma simplicidade franciscana : oferece-se um elevado rendimento para o capital dos investidores que, muito satisfeitos com os ganhos auferidos, além de nunca resgatarem as suas aplicações, ainda contam vantagem para os amigos igualmente ricos que de olho gordo também se interessam pelo rendoso negócio. Assim, enquanto continua ingressando muito mais dinheiro do que sai, pela contínua adesão de novos investidores e face ao maior volume de aplicações dos que já faziam parte da pirâmide, o sistema funciona em plena prosperidade, com o bolo nunca parando de crescer. O "furo" se localiza apenas na contabilidade, mas os frouxos mecanismos de controle, se existentes, não detectam que a soma dos saldos de aplicações é imensamente superior ao lastro necessário para cobertura dos resgates.

Eu, caso fosse sair por aí oferecendo aplicar o capital dos parentes e amigos a, digamos, "modestos" 2,5 % ao mês, não iria arranjar quem estivesse disposto a arriscar nem cem reais no meu negócio e ainda acabaria em cana, pois não tenho autorização do Banco Central para realizar captação financeira.

Já o Maddoff girava e havia alcançado grande prestígio no círculo dos endinheirados mundo afora, por haver presidido a NASDAQ, a Bolsa de Valores Eletrônica ( negocia ações de empresas de alta tecnologia, informática, telecomunicações, biotecnologia etc. ) e, dono de forte magnetismo pessoal, é desse tipo que não precisa mais que dois minutos de conversa para convencer que o preto é vermelho ou que o cachorro é gato.

E, genial, convenhamos, Madoff se mostrava rigoroso na seleção dos aplicadores em seu pomposo Bernard Maddoff Investiment Securities. Primeiro, exigindo aplicações mínimas de valor elevadíssimo. Depois, não aceitando "qualquer um" em sua carteira de clientes. Assim, ser aplicador do Fundo de Investimentos de Maddoff passou a ser uma grife, um sonho de consumo e afirmação para os ricos e poderosos de todo o mundo, Brasil inclusive, estão pensando o quê ? por aqui, as poucas e boas aplicações eram fechadas nos salões do Country Club do Rio de Janeiro, em meio a brindes de Veuve Clicquot . O planeta passou a ser dividido entre "aplicadores de Maddoff" e o "resto" .

E tudo seguia no melhor dos mundos, quando aí veio a crise e com ela a necessidade de dispor de capital. Para uma corrida às aplicações no Fundo Maddoff foi um piscar de olhos. E, bum ! Um grande estouro... Até agora o prejuízo dos incautos alcança a quantia de US$ 65 bi e dizem os analistas que não irá parar por aí.

O Maddoff está sendo julgado e a pena que deverá cumprir é estimada em 150 anos. Como ele já tem 70 , precisará viver 220 para ficar quites com a justiça, o que é menos provável ainda que essa história de pirâmide não terminar mal.

Horrível e deprimente foi ver o Mister Maddoff algemado, chegando à Corte Federal em NY. Fosse aqui, o Supremo Tribunal Federal não permitiria tamanha afronta. Ora, isso me aborrece pois, de mais a mais, não ouvi falar de nenhum investidor de Maddoff que se visse obrigado a morar debaixo de uma ponte, a tomar pinga para poupar champanhe ou a andar de metrô para economizar gasolina em seus Bentleys, Rolls Royce e Ferraris. Continuam todos vivendo e muito bem, graças a Deus, e o Maddoff, para meu gáudio, fez com que muitos eles se sentissem uns trouxas, uns bobões e, nesse sentido, para mim ele é um grande ídolo.

Os tais 150 anos de cana merecem ser aplicados nesses que roubam os hospitais, as escolas, os aposentados e os seus remédios. Mas, pelo menos por aqui, os que atravessam a vida perpetrando maracutaias com o erário recebem mesmo são comendas e honrarias, se tornam imortais e estadistas.

Está aí presente e dando as cartas diante dos nossos olhos, aquela personagem do velho coronelismo nordestino que não me deixa mentir. Viva Maddoff !