quarta-feira, 11 de março de 2009

SERÁ O APOCALIPSE ?


A nossa imprensa, como sempre acontece, se deliciou com a má notícia sobre o PIB do último trimestre e as manchetes são verdadeiros atos terroristas perpetrados com tinta e papel : "Queda do PIB é uma das piores do mundo", "PIB desaba", " Consumo cai", "2009 com recessão".

Eu, se pudesse, eliminaria do vocabulário as palavras " desaba", "despenca" e "explode" (em ambos os sentidos) . Que o tombo foi feio e acima do previsto pelos mais conservadores analistas econômicos não há dúvida. Também não há dúvida que existe claramente no bojo das manchetes uma satisfação pelo ocorrido, como se a classe jornalística tivesse uma blindagem especial contra todas as mazelas que atingem os demais seres viventes que perdem seus empregos, vêem suas poupanças e aposentadorias ameaçadas, os serviços públicos que já são da pior qualidade ( salvo raras exceções ) ficando sem verbas... . É bem verdade que a turma que está no poder maior passou a vida inteira torcendo pelas crises, confiando no "quanto pior melhor" para alavancar o seu projeto de galgar o poder. Mas não creio correto acreditar que um erro justifique o outro ou defender o adágio "quem com ferro fere, com ferro será ferido".

É certo que, se a imprensa se regozijou carregando nas tintas, não menos verdade têm sido as atitudes equivocadas do Presidente Lula, primeiro tentando esconder o óbvio, ou seja, apregoando que "a crise era um problema do amigo Bush; depois que aqui, da tempestade mundial, chegaria apenas uma marola e, finalmente, que o susto já passou".

Como comandante do avião chamado Brasil, diante de uma grave pane, ele não poderia acionar o microfone e sair gritando para os passageiros, "nós vamos morrer, nós vamos morrer ! " . Só que o Comandante Lula, no caso abordado, diante de um inevitável e iminente pouso no mar, emergência gravíssima, em vez de instruir os passageiros a colocarem os salva-vidas sem inflá-los e a permanecerem com o tronco apoiado sobre os joelhos, protegendo as cabeças com os braços e as mãos, preferiu avisar a todos que lhes estaria proporcionando um agradável e belíssimo sobrevôo próximo ao oceano, de forma que fosse possível descortinar bem de perto a sua tonalidade azul.

Mas o Lula, reconheçamos o seu inegável potencial cênico, não se deixa apertar : ele desdiz o que disse sem apresentar um mero rubor nas faces e no último caso afirma que "não sabia", seguindo em frente como se nada de diferente houvesse acontecido.

Deixando o Lula pra lá e voltando à realidade, manifesto aqui a minha certeza de que o Brasil e os brasileiros já passaram por tantas e tão boas ( quem não se recorda dos planos heterodoxos de "salvação" da economia ? quem não viveu aqui o sequestro de todos os ativos financeiros ? quem não passou pelos longos períodos de inflação desenfreada ? ) . O Brasil, com essas loucuras, desenvolveu uma monumental capacidade de adaptação e improvisação diante das extravagâncias cometidas por seus governantes e, nesse particular, dá um show de bola nos países desenvolvidos, habituados a atravessar longos períodos de calmaria, sem grandes sustos e surpresas. Essa, pelo menos, é a minha grande torcida : que a tempestade não nos imponha severas sequelas.