segunda-feira, 23 de março de 2009

SÍNDROME DO DOMINGO À NOITE


Desde quando eu possa me lembrar, nunca tive simpatia pelas noites de domingo. Assim, em geral, sempre preferi ficar em casa me "concentrando" para a segunda-feira. Outro dia mesmo, um primo e grande amigo me telefonou, propondo adiar de sábado para domingo um jantar combinado comigo, pois havia surgido para ele um impedimento no sábado. Eu imediatamente propus : " por que não almoçarmos no domingo ? " E assim restou combinado. A exceção é quando estou viajando, pois aí "é só alegria" e os dias se confundem.

Então me veio à cabeça a razão da minha idiossincrasia em relação ao domingo à noite, fato aliás comum a um grande número, ou melhor, à maioria dos mortais. No meu caso em particular, olho para trás e vejo : nunca fui estudioso, ou melhor, se gostava de ler, se gostava de história,ou de geografia política, se convivia em paz com o francês, detestava outras matérias, especialmente matemática. Hoje, entendo bem a razão : eu sempre tive uma certa dificuldade de concentração (deficiência hoje identificada pela psicologia e, sem querer ingressar em terreno alheio, creio que é conhecida como TDHA - Déficit de Atenção) .

Lembro-me bem de, quando garoto, me aplicar buscando desenvolver corretamente aqueles exercícios de imensas expressões algébricas e, ao conferir o resultado, cadê que acertava ? no "meio do caminho", eu havia-me distraído pensando numa defesa do Castilho, num gol de Valdo, num filme a que havia assistido e, pimba ! trocava um sinal, um "mais" por "menos" e todo o meu empenho ia por água abaixo. Como domingo à noite era véspera de aulas de matemática, latim, ciências e sei lá mais o quê, nunca tive uma boa sintonia com a ocasião. Ainda mais porque eu era de temperamento rebelde : não gostava, não estudava. Depois, para passar de ano, um verdadeiro suplício.

Já no trabalho, na verdade, a vida e as oportunidades sempre me foram conduzindo em determinadas direções. Estaria mentindo se dissesse que fui "apaixonado" pelas minhas ocupações. Eu era responsável, cumpria com os meus deveres, procurava saber e dominar o que tinha que fazer, mas numa espécie de "casamento por interesse". Isto é, as minhas atividades profissionais estavam vinculadas à necessidade de me manter e, obviamente, o quanto pudesse viver melhor, mais gratificante seria o trabalho.

Sendo assim, sempre tive a maior admiração pelos amigos e familiares que verdadeiramente amavam o que faziam, as suas atividades profissionais lhes proporcionavam sentimento de realização pessoal. O meu pai, para citar um caso bem próximo, se dedicava à Educação, tendo todos os seus grandes amigos nesse meio, assim como a sua biblioteca pessoal e a do seu trabalho. Ele protestava veementemente contra os feriados em abundância, férias nem pensar. Vínhamos para São Paulo e as atividades dele continuavam em visitas, palestras, encontros com colegas paulistas, etc. Íamos para Salvador e era a mesma coisa. As suas viagens ao exterior foram muito frequentes, mas sempre vinculadas a congressos, seminários, palestras, encontros e aulas em universidades. Isso não é um privilégio ?

Não foi por outro motivo que semprei incentivei os meus filhos, primeiro a descobrirem quais seriam as suas aptidões, depois, que buscassem fazer delas seu meio de vida, menos importando se lhes trariam ou não grandes resultados materiais. Bem, acho que não preguei em vão . Fico feliz quando vejo a minha filha, com o maior brilho nos olhos, contando como foi o plantão de sábado à noite na UTI Neonatal onde trabalha, ou quando observo o meu filho lendo, como se fossem um gibi, aqueles complicadíssimos ensaios de aplicações financeiras e de investimentos em Mercado de Capitais, tudo repleto de gráficos e quadros de análise de desempenho que, só de olhar, me arrepio.