segunda-feira, 9 de março de 2009

ENTRE OS TUCANOS E AS AVES DE RAPINA


Nenhum partido político brasileiro pode ser considerado confiável. O que vemos hoje, aliás, são dois grandes grupos que internamente se desdobram em vários sub-grupos : um, a "patota" que está no governo e o outro, a "patota" que sonha estar no governo. Os que estão ocupando o executivo, seja ele federal, estadual ou municipal, pouco importa o(s) partido(s), municiam a imprensa e a "oposição" com uma série de nomeações sem mérito, concorrências viciadas, manipulação de boa parte dos demais poderes mediante a concessão de favores espúrios. Um horror ! Até que, um dia, a oposição se torna poder e passa a empregar todos os métodos ( e mais alguns, pois nessas práticas eles se superam em criatividade ) que denunciava indignada, quando estava do lado de lá do balcão. Aos que me identificam como simpático ao tucanato devo dizer que, na época da sua criação, cheguei a me entusiasmar com o PSDB. Quem não é muito jovem e possui boa memória lembrará da razão maior desse partido : a constatação da impossibilidade de dividir o mesmo espaço com a "banda podre" do PMDB. Pouco a pouco, no entanto, o PSDB, em grande parte graças à visão pragmática do seu cacique, o ilustre e pós-moderno sociólogo Fernando Henrique Cardoso, foi deixando para trás os seus princípios originais e abraçou a Realpolitik que seria uma forma de governar partilhando o poder com os diversos segmentos representativos da sociedade. Bem que foi tentada uma aproximação com o PT, mas o Lula tinha planos mais ambiciosos que ficar com uma fatia do bolo. FHC, para mim, já teria colocado os seus impulsos "conciliadores" à mostra, ao fazer de tudo para ser nomeado Chanceler, quando de uma frustrada tentativa de salvação do governo Collor. Não fosse um veemente veto do finado Governador Mário Covas e ele teria se atirado no colo do já então em plena decadência "caçador de marajás". Ao sair candidato para o seu primeiro mandato, FHC logo aderiu de bom grado a uma parceria com o PFL de Antonio Carlos Magalhães, o que me fez arrancar os cabelos, pois considerava a decisão uma espécie de pacto com o demônio ( que Deus se apiede da alma de ACM ). Mas a personalista e corrupta reforma da Constituição, permitindo um segundo mandato a FHC, foi um gol-contra de ouro, pois colocou uma pá de cal na decência da política brasileira. Ali, naquele triste processo de "convencimento" do baixo clero parlamentar, rolou de tudo e se criou jurisprudência pois, "se o respeitado intelectual e político pessoalmente incapaz de se locupletar com o uso do cargo pode, por que NÓS não podemos ? " E foi esse entendimento que colocou um ponto final na expectativa que o PSDB pudesse transformar o Brasil no tão desejado "país sério". FHC abriu a porteira e por ela passaram todos os bois, até mesmo os que até então não se haviam interessado em pastar na paragem política. Mas, com tudo isso de mal, não se pode negar a FHC um lado meritório. Foi colocada "ordem na casa", a hiper-inflação foi domada e trazida para níveis civilizados, os esqueletos saíram dos armários, a responsabilidade fiscal passou a existir, o sistema financeiro foi saneado pelo PROER ( e o primeiro mundo não aprendeu a lição ! ) . Já a cisma particular que tenho do PT e do maestro da sua orquestra, confesso, é que a mim durante um bom tempo, ele me pareceu aquela mocinha muito feia, sem nenhum charme ou feminilidade, um daqueles "breves à luxúria" que todos um dia conhecemos na juventude. Mas a ela ( nesta parábola o maestro ) eram sobejamente atribuídas virtudes morais que, pelo menos em boa parte, faltavam às garotas bonitas, atraentes, sensuais, aquelas que eram disputadas acirradamente pelos rapazes considerados como sendo os galãs da região . A feiosa se mostrava um ótimo caráter, era fidelíssima, amiga, pura, bondosa, incapaz de cometer um deslize, ou de se deixar levar pela vaidade e melhor, não roubava nem deixava roubar. Como não podia deixar de ser, mesmo não sentindo qualquer atração física por aquela bruxinha, me colocava entre os que até simpatizavam com ela, me sensibilizava a sua humildade, a maneira simples como se comportava . Eis que, por uma dessas inexplicáveis peças que a vida e o destino costumam pregar, a tribufu vem a se casar com o rapaz mais rico e bonito do bairro. Pois bem, se vendo "cheia de moral" e poder, operou-se uma metamorfose na feiosa : tornou-se pretenciosa, egoísta, capaz de rifar amigos que lhe foram dedicados e passou a circular nas piores companhias, até mesmo com algumas que no passado dela debochavam, ou pior, ofendiam a sua honra a chamando de "chefe de quadrilha" ou afirmando que, nunca antes de a bruxinha se casar, "se teria roubado tanto" a fortuna do marido rico e bonito. A pessoa que antes se mostrava simples se tornou prepotente , começou a se considerar como sendo um dos maiores gênios já produzidos pela humanidade, não percebendo que as claques que a aplaudiam, igualmente aplaudiriam ou já teriam aplaudido qualquer um que estivesse em seu lugar. Transformou-se numa espécie de vice-Deus e com aspirações a assumir a titularidade, vendo à frente, unicamente, o seu megalomaníaco projeto pessoal ( será que pretende ser um dia Presidente do Mundo ? ) . Então , quem não é muito bobo, percebeu que a tal feiosa nunca teria sido de verdade o que se imaginava. Ela apenas "fazia um tipo" para conquistar o menino riquinho e, com ele, o poder. Mas, há de se registrar que o nosso maestro é mesmo muito esperto. Tratou de imputar as suas dificuldades à herança maldita lhe deixada pelo antecessor e manteve, só que creditando a si próprio o mérito, toda a espinha dorsal da política econômica da equipe FHC, colocando nos seus lugares-chaves não os "companheiros" , muito menos os aloprados. Serviu-se de profissionais que continuaram a seguir à risca a cartilha dos que os antecederam . E a nossa sapinha barbuda, reconheça-se, resistiu a pressões severas para mexer nesse time. O mundo navegando com ventos a favor, foi possível aumentar o emprego, melhorar o salário mínimo, deixar o mercado realizar aumentos salariais acima da inflação e a crescente arrecadação fiscal permitiu o desenvolvimento de programas como o tão discutido bolsa-família que levou a popularidade do governo a patamares elevadíssimos. Lamento que muitos daqueles que revelam a sua aprovação ao atual governo exponham o seguinte raciocínio : " roubar, todos eles roubam ( os políticos ) . Esse que está aí pelo menos deixa uma beirinha pra gente " . Hoje, estamos numa hora da verdade. O mundo passa por uma terrível crise econômica. Torço para que a política de criar fundamentos saudáveis na economia, criados no governo anterior e que teve prosseguimento no atual, nos permita passar por menores aflições .