sexta-feira, 6 de março de 2009

A DEFESA DO TERRORISMO


Abordo este assunto por haver, outro dia, entrado numa calorosa discussão com um grande amigo sobre a questão do terrorismo. Esse amigo, se esclareça, é um cidadão responsável, respeitador da lei, ótimo pai de família, profissional dedicado, amigo fiel, grande companhia, muito alegre, enfim, o tipo que se poderia considerar como sendo " tudo de bom ", na moderna terminologia.

Eis que, papo-vai, papo-vem, esse amigo se vira para mim e, com a maior naturalidade do mundo, diz que os Estados Unidos mereciam um atentado do tipo "Torres Gêmeas" por ano. Pensei ter ouvido mal e perguntei, " como é que é ? " e o pacato cidadão respondeu : " Um por ano não. Melhor seria um por mês ! " . Confesso que caí das nuvens que, no dizer de Nelson Rodrigues, é melhor que cair de um andar alto. Sou totalmente favorável à pluralidade, em especial no campo das idéias mas, daí a defender o terrorismo, existe uma incalculável distância.

Disfarçando o meu horror, indaguei por que um "World Trade Center" por ano, ou por mês ? e a resposta estava na ponta da língua : em nome das famílias que foram assassinadas por bombardeios norte-americanos, em nome dos que foram torturados no terceiro mundo por ditaduras promovidas e ou sustentadas na espúria defesa dos interesses do capitalismo ianque ( será que ele falou mesmo ianque ? ou ianque desapareceu do vocabulário, desde aquela época em que era moda segurar cartazes nas passeatas, determinando : IANQUES GO HOME ! ? ).

Respirei fundo, antes de me atrever a argumentar : " Escuta aqui : reconheço e recrimino o fato de muitas famílias inocentes terem desaparecido da face da terra por conta de injustificáveis ataques militares de americanos e seus aliados, em guerras que, na verdade, se constituíram em verdadeiro massacres, diante da desproporção de forças. Concordo, até mesmo por não ser burro, que os Estados Unidos patrocinaram ditaduras cruéis ( para mim, se é ditadura, é cruel ) , para melhor poder explorar as riquezas e o trabalho de muitos povos. Mas será o terrorismo a forma adequada de se combater as injustiças, os excessos, a exploração dos menos favorecidos ou, pelo contrário, essa inominável barbárie chamada de terrorismo funciona como o combustível necessário e a justicativa ideal para mais agressões, para mais violência ? se não houvesse o World Trade Center, a personalidade com ímpetos genocidas de Bush teria tido condições de desencadear a invasão do Iraque ? ". O meu amigo, sabendo muito bem que eu não formava entre os "radicais de direita" que aprenderam desde quando crianças a antes de se deitar dar uma olhada debaixo da cama para ver se tinha algum comunista escondido, se acalmou um pouco.

Foi quando aproveitei para externar que considerava o terrorismo, seja ele de esquerda, de centro ou de direita, uma das mais repulsivas ações do mundo conteporâneo. Primeiro por ser um fomentador da violência, por via da retaliação. Segundo, por atingir, aleatoriamente, pessoas absolutamente inocentes e que poderão até, por que não, compartilhar em boa parte do pensamento político dos seus assassinos. Afinal, será que as vítimas das Torres Gêmeas, do metrô espanhol e do ônibus londrino, para citar casos conhecidos eram, por acaso, covardes agressores de impotentes minorias ? . Terceiro, os idealizadores desses atentados, que como os generais nas guerras, nunca são atingidos pelos seus efeitos, os costumam anunciar como tendo por objetivo "chamar a atenção para a causa" . Esse argumento, então, é da mais completa insanidade pois atos terroristas são a anti-propaganda da causa que pretendem defender.

Ao meu amigo, entusiasta de Bin Laden, restou demonstrar que, em relação aos Estados Unidos e a seus aliados, Israel em destaque, lhe correria sempre sangue na boca e desejo de exterminá-los. Ou seja, o racional é descartado e em seu lugar permanece o ranço de um bem sedimentado ódio que, creio, nada de positivo pode construir.

Vejo, felizmente, que, nos dias atuais, a determinação de ter a paz instalada entre os povos está seguramente preponderando no pensamento dos líderes mais poderosos do planeta, a começar por Barack Obama que demonstra pretender marcar a sua passagem no governo americano como um propagador da paz, ao contrário do seu antecessor.