quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Um Show De Cinismo Capaz De Ruborizar Maluf

Por penitência patriótica, fiz questão de ouvir, palavra por palavra, o longo e nausebundo discurso de ontem do senador José Sarney ( PMDB MA/AP ) e, confesso, até agora continuo me indagando se houve, em todo o país, alguém que antes estava convencido de que Sarney era um patife e, consumada a titubeante e falsamente indignada leitura da fraquíssima peça de oratória, mudou o seu ponto de vista e se convenceu de que o atual presidente do nosso senado é, de fato, um grande estadista, vítima de perniciosa armação da pérfida mídia. Duvido !

No âmbito da política, todos, sejam os "da base do governo", sejam da oposição, sabem perfeitamente quem é José Sarney e o seu depoimento não mudou em um milímetro as suas convicções anteriores. O "lero-lero", portanto, foi o passo inicial de um script que teve sequência no Comitê de Ética, onde o seu presidente, o "sub do sub" senador Paulo Duque ( PMDB - RJ ), anunciou o arquivamento sumário de quatro das dez acusações apresentadas contra Sarney. Bem, não havia dúvida quanto ao desfecho desse primeiro capítulo da inacreditável farsa.

O cinismo de Sarney não conhece limites. A sua cara de pau, me fez lembrar o tristemente célebre Paulo Salim Maluf . Sarney se colocou como o único governador de Estado a enfrentar o AI-5, acreditam ? Depois, ao perceber que o barco do militarismo estava fazendo água, pulou para o primeiro bote, fazendo com quê o General Figueiredo se recusasse a lhe passar a faixa presidencial. Mas Sarney prefere contar que "quando divergi do PDS, renunciei à sua presidência ", como se fosse um gesto de grande altruísmo.



E, prosseguiu Sarney, se colocando como um herói "por ter decretado o Plano Cruzado" , o maior fracasso da economia brasileira . Registra como pontos positivos da sua atuação como presidente da República, a decretação da moratória e o congelamento dos preços ( lembram do ágio ? ) e garante que o Plano Real é um filho dileto do seu Plano Cruzado.

Afirmou Sarney que suportou 12 mil greves sem que nunca houvesse pedido um dia de prontidão militar. Esqueceu que, só na greve do pessoal da Companhia Siderúrgica Nacional, em 1988, mandou o exército para Volta Redonda, com o objetivo de sufocar o movimento, e três operários foram mortos na ação.

Mas são tantas e tamanhas as mentiras, facilmente desmascaradas, que não vou perder o tempo de vocês relatando-as uma a uma. Todas elas estão detalhadamente expostas e contestadas, em reportagem da edição de hoje do Estadão.

Sarney nega conhecer um grande pessoas que lhe são íntimas e por ele foram nomeadas para cargos no Senado. Tem, por exemplo, a audácia de dizer que não sabe quem é Rodrigo Cruz ( genro de Agaciel Maia - Diretor Geral do Senado ), que trabalhou na Casa por dois anos e de quem, outro dia, Sarney foi padrinho de casamento !

Sarney não sabe nada da Fundação José Sarney. Só faltou perguntar se ficava no Maranhão !

Para não ir mais longe, vou fechar comentando esta : Sarney, voz trêmula, declara que "seu neto, José Adriano Cordeiro Sarney, não é, nem nunca foi integrante do quadro de pessoal do Senado Federal ". Acontece que ninguém disse que José Adriano Cordeiro Sarney teria sido funcionário do Senado. Ele foi, isto sim, agente credenciado do banco HSBC, para atuar como corretor de créditos consignados do banco a funcionários da Casa. E sabe como Sarney concluiu a explicação ? " O contrato do meu neto com o HSBC foi assinado em 2005. Em 2005 eu não era presidente, não tinha nada a ver com isso, nem estou sabendo ! " .

Mas, é ou não é mesmo um cara de pau ?

A estranhar, a oposição, que permaneceu muda, ouvindo toda a sorte de abobrinhas sem contestá-las, dando a impressão que essa postura havia sido acordada anteriormente pelos líderes da Casa .