segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Um Choque De Realidade

Tenho tido, com o meu querido amigo e primo Antônio José, uma interminável discussão sobre política. Ele, Lulista de carteirinha, desses de vislumbrar no nosso presidente da República, um estadista digno de uma consagração universal que o credencia a merecer o Prêmio Nobel da Paz. Eu, de minha parte, criei uma verdadeira ojeriza pela figura do atual presidente da República, a quem considero aquele tipo "esperto", mas ignorante, mau caráter, pretencioso, arrogante, vaidoso e mais uma porção de aspectos que gostaria de registrar mas não posso.

Com posições políticas tão antagônicas, volta e meia a nossa amizade, minha e do Antônio, que é para toda a vida, passa por situações de algum estresse, sobrevivendo porém ,intacta, por conta do bem que queremos um ao outro desde os nossos tempos de criança. Fato é que me contrariava muito a tese defendida pelo Antônio, atribuindo as minhas críticas ao Lula e aos seus companheiros do PT, à minha simpatia pelo tucanato. Não, uma coisa nunca teve nenhuma relação com a outra. Aqui mesmo neste blog eu já declarei ter tido, na época da fundação do PSDB, uma simpatia muito grande pela causa que fundamentou a sua origem, qual seja, a impossibilidade de convivência no mesmo espaço, de Mário Covas, José Richa, Franco Montoro e o então prestigiado sociólogo Fernando Henrique Cardoso, entre outros, com políticos do estilo Orestes Quercia e Newton Cardoso, por exemplo. Os três primeiros, já não se encontram entre nós, infelizmente. Eram homens dignos, um tipo de político cada dia mais raro no ambiente.

Quanto a Fernando Henrique Cardoso, deixei de admirá-lo, ou melhor, o coloquei em minha "linha de tiro" crítica, desde quando ele manifestou o seu incontrolável desejo de "subir na vida", compondo um "governo de salvação de Fernando Collor". Pretendia assumir o Ministério das Relações Exteriores collorido, fato que só não se concretizou por firme e definitivo veto do falecido Mário Covas ( que sorte, hein FHC ? ). Depois, na sua primeira candidatura presidencial, FHC "aprontou" novamente , aceitando fazer parceria com Antonio Carlos Magalhães ( que Deus o tenha bem guardado ) . No episódio da reforma constitucional, lhe permitiundo a própria reeleição, FHC "transbordou o balde" de vez, colocando em campo o também já falecido Sérgio Motta, para arregimentar no congresso os políticos que, mais maleáveis a "apelos" , iriam somar às intenções continuistas do então presidente, desde que ... , bem, todos sabem. Com essa postura dita por ele como "pragmática" ou, mais "chic", como "Real Politik", FHC promoveu o que se poderia nominar de um verdadeiro "liberou geral" na política, onde nada mais era condenável, desde que objetivos e metas fossem alcançados. Com a reeleição de Fernando Henrique, se foram os últimos resquíscios de pudor na política brasileira.

Enquanto isto, o PT, Lula no comando, se dizia indignado com essas práticas, segundo eles imorais, seja denunciando as maracutaias, seja pedindo CPIs para apurar o mau uso dos recursos públicos, ou atacando os congressistas "picaretas" e se colocando como uma alternativa sadia de poder, garantindo que com o Partido dos Trabalhadores no poder, não " se roubaria, nem se deixaria roubar" .

Pois não é que, num pleito cuja campanha começou idefinida, havendo Ciro Gomes chegado a liderar as pesquisas, até que caiu na asneira de dizer que sua mulher servia para ajudá-lo no campo sexual, ou algo assim, e depois teve a Roseana Sarney ( meu pai do céu ! ) assumindo o primeiro lugar nas intenções de voto, até que a Polícia Federal promoveu uma blitz no escritório de seu marido ( dizem que encomendada pelo Serra ) e uma célebre fotografia de montanhas de cédulas de dinheiro foi estampada na primeira página dos jornais e nos noticiários televisivos ( quem lembra das inúmeras, diferentes e sucessivas versões que iam sendo oferecidas para tentar justificar a dinheirama ? ), sepultando as pretensões da filha de José Sarney. Com o PSDB desgastado após 8 anos de governo e atravessando muitas crises internacionais que balançaram o Brasil, por força da então fragilidade da sua economia, a tendência do eleitorado começou a resvalar para a candidatura "Lulinha Paz e Amor" que fazia, à época, a sua quarta tentativa de chegar ao palácio do Planalto.

Eleito Lula, o "alto capitalismo" que andou preocupado, fazendo o dolar bater em quase 4 reais e forçar o Brasil a pedir novamente socorro financeiro ao FMI, percebeu que nenhum de seus grandes interesses seria ameaçado. Pelo contrário. "Nunca antes neste país" os bancos, as empreiteiras e as grandes empresas realizaram tamanhos lucros. Era preciso demonstrar que Lula e os seus companheiros não eram "perigosos" antagonistas do "capital".

Só que, não demorou muito, e os escândalos começaram a pipocar. Vieram o "mensalão", os "aloprados" e a eles se seguiram tantos, que só indo aos arquivos dos jornais para poder enunciá-los sem cometer omissões e injustiças. Pior, quando eu esperava que Lula fosse "colocar a baiana para rodar", se declarando traído por alguns malfeitores infiltrados no PT e exigindo para eles uma pronta e severa punição, o vi defendendo os "meninos" que erraram, alardeando que "todo mundo usa caixa dois" e barbaridades da espécie. Mais grave, ainda, procurou se cercar, em nome da governabilidade, de uma "respeitosamente" chamada de "base de apoio ao governo", composta por ( maus ) elementos do PMDB e de partidos menores, cujas reputações frequentam mesmo é o noticiário policial da imprensa. Até mesmo Fernando Collor que, numa peça urdida por Egberto Batista, não vacilou em expor testemunho na sua campanha presidencial, de uma ex-namorada de Lula, afirmando que ele a ameaçou, pretendendo obrigá-la a praticar um aborto da filha que esperava, passou a ser um íntimo correligionário de Lula. Isso me repugna ? Repugna, eu sou assim, fazer o quê ? Esperava que o nosso presidente dissesse : "Pera aí, para tudo há um limite ! Este Collor não !" Mas, qual o quê, os afagos recíprocos só não resultaram (ainda) em beijo na boca .

Aí, vem uma criativa e considerável tese do meu primo Antônio, justificando todas essas atitudes e parcerias, a princípio, inaceitáveis : " A política é mesmo sórdida e, não se esqueça, todos os políticos dependem de mandatos. Mandatos significam poder que, por sua vez, atrai dinheiro e, nesse ciclo, se encerra a essência de todo político. Para alcançar, preservar e aumentar o seu poder pessoal, galgando novos mandatos, os políticos não se impõem limites éticos ou morais : negociar consciências e votos, trair, se deixar humilhar, nomear, praticar fisiologismo, aceitar dinheiro de origem suspeita, permitir manobras de "caixa dois" em campanhas e não fazer restrições à pratica de nepotismo, fisiologismo e outros "ismos" da espécie ( Essa conversa também é conhecida por "eu sou, mas quem não é ? " ). Mas, Deus do céu, Lula não teria vindo justamente para combater essas práticas abjetas ? ). Depois de ouvir contrito a exposição, ainda ousei balbuciar : " Mas, será mesmo que todos os políticos são assim ? " . Ele, como um grande catedrático do tema, me tirou um sarro : " Bem, os normais ... " ( parodiando Nelson Rodrigues que, respondendo a uma indignada jornalista que lhe perguntou : " Nelson, você afirma mesmo que todas as mulheres gostam de apanhar ? " O grande mestre, com a ironia de sempre, a desarmou, dizendo : "Bem, as normais ... " ).

E, o meu primo pegou embalo : "A política sempre foi assim, é assim e vai continuar sendo assim . Político que não souber rezar por esse evangelho, acaba sempre dando bom dia a cavalo". Aí, não me contive e perguntei : "Mas como é possível sentir admiração por quem não tem caráter, por quem é capaz de aceitar qualquer tipo de apoio, de conviver na intimidade com todo tipo de gente, até mesmo com os que já lhe feriram a honra, o chamando de ladrão , ou de aborteiro da própria filha ? " . Foi quando veio a colocação definitiva : "Eu admiro o talento que os grandes políticos possuem para movimentar a seu favor as peças do intricado tabuleiro político, como se estivessem jogando uma desafiante partida de xadrez. E ,além disso, ainda alcançar , como no caso do Lula, estabilidade na economia, crescimento do PIB, uma boas porções de ações sociais e uma certa preocupação com os desvalidos, aí, então, esse político merece mesmo ganhar o Prêmio Nobel " .

Putz, eu, aflito, não conseguia dormir depois desse "choque de realidade". Mas, fazer o quê ? Nasci bobinho e vou morrer trouxa, acreditando em Papai Noel, na Branca de Neve, no Coelhinho da Páscoa, na Cinderela, no Saci Pererê, no Lobisomem e, pasmem, até mesmo em política praticada com dignidade.

Só sei que, não foi por outro motivo, ontem à noite, quando o sono me venceu, acabei sonhando que a Marina Silva havia vencido as eleições em 2.010 e eu via, como manchete de primeira página dos jornais : Marina anuncia o seu ministério : Renan Calheiros, Fernando Collor, Geddel Vieira Lima, Jáder Barbalho, Romero Jucá, Wellington Salgado, Michel Temer, Almeida Lima, Orestes Quércia, Gilvan Borges, Joaquim Roriz, Gim Argello, Anthony Garotinho, e outros menos cotados. Faltou o José Sarney ( PMDB MA/AP ), mas este continuaria presidindo o Senado, dando sustentação ao governo na Casa. Aos repórteres, perplexos diante dos nomes anunciados, Marina afirmara: " ESTE É O GRANDE MINISTÉRIO DA GOVERNABILIDADE ! ... "