terça-feira, 11 de agosto de 2009

As Brigadas de Combate aos Fumantes

Eu sou de uma geração em que o cigarro era apresentado em todas as formas de comunicação como sendo algo estreitamente vinculado ao glamour, ao charme. Hoje, ao assistir aos filmes clássicos das décadas de 40, 50 e 60 que, aliás, adoro, me sinto o próprio fumante passivo, diante da fumaceira que aparece na tela.

Não foi por outro motivo que, lá pelos meus quinze anos, me senti "homem prá cacete", quando me vi com um maço de cigarros no bolso da camisa, exibindo-o de forma a que todos pudessem vê-lo e, me admirar, como se, por conta daqueles cigarros, eu merecesse ser admirado, respeitado e, quem sabe, até paquerado ?

Momento seguinte, eu já trabalhando, me lembro de reuniões realizadas numa sala bem apertada, com uma mesa que lhe ocupava todo o espaço, onde tomavam assento onze funcionários e a chefe do meu setor. Em cima da mesa, três cinzeiros bem grandes. Dos integrantes da reunião, onze fumavam ! O Francisco, pobre coitado, além de detestar cigarro, tinha uma enorme alergia à fumaça, que o deixava fungando, olhos vermelhos e quase sem respiração.

Pois bem, O Francisco sentava perto da única janela existente e a abria, para protesto dos fumantes que alegavam a perda de potência do ar condicionado e consideravam a providência desse único "não fumante", pura "frescura".

O que espanta, na situação acima, era que, nessa época, final da década de 60, de doze jovens, todos na faixa de 20 anos, onze eram fumantes ! E, sendo minoria absoluta, quem não fumasse tinha que se submeter caladinho à ditadura da então "brigada de fumantes".

Eu, graças a Deus, se fumei durante mais de trinta anos, um tremendo equívoco, não cheguei a ser um dos mais inveterados tabagistas. Pitava menos de um maço por dia ( engraçado, fumante é "medido" por maços : um maço, dois maços, meio maço ), quase não tragava, não fumava antes das dez horas da manhã, detestava cigarro em automóvel e na cama ( na hora de dormir, naturalmente ) e era incapaz de pegar no sono se houvesse por perto algum cinzeiro com bitucas apagadas, ou seja, era um tabagista, digamos, do "grupo moderado" .

Parei de fumar sem maiores dificuldades, a não ser um certo sentimento de perda que surgia quando eu procurava o maço e o isqueiro e me lembrava que havia deixado de ser fumante. Mas essa sensação foi desaparecendo com o tempo e, entre seis meses a um ano, nem mais conseguia entender como que eu pude ter fumado durante tanto tempo.

Mas, se para mim foi fácil largar esse hábito, ou vício, para muitos outros, talvez a maioria, "a coisa" não funciona bem assim. E sou solidário a todos que lutam para deixar de fumar e, principalmente, para com os que nem ousam tentar, pois acham que a sua vida perderia muito da sua graça, sem a companhia do amigo ( ? ) cigarrinho.

Hoje, com a promulgação da Lei Estadual Anti-Fumo, se observa a formação de verdadeiras brigadas "caça-tabagistas" formada, em grande parte, por ex-fumantes que são, normalmente, os mais radicais militantes.

Como eu procuro vislumbrar a razão no meio-termo, se não apoio o fato de se fazer uma refeição inalando cigarros dos vizinhos, por outro lado não vejo sentido em sair por aí caçando "pontinhas de brasa" que possam estar vagando pela noite para denunciá-las e exigir a sua expulsão, mesmo que esteja ela escondida num cantinho deserto da varanda de um bar.

A história não nos remete a boas lembranças dos grupos que, em todas as épocas, saiam "caçando" alguma espécie de pessoas, então objeto do seu ódio, pelos mais variados motivos.

Aos fumantes, ofereço minha simpatia e a sugestão : os tempos estão ficando cada dia mais difíceis para vocês. Não seria, então, uma boa hora para se pensar numa estratégia capaz de dar um xeque-mate no cigarrinho ? Hoje, há muitos recursos auxiliares para serem usados, alguns deles bastante eficazes .