terça-feira, 4 de agosto de 2009

Falando De Lembranças

À medida que o tempo vai passando, e como passa, vamos arquivando na memória os nossos "melhores momentos" para, volta e meia, "assistí-los" como se fosse a um vídeo. Costumo fazer isso e curto muito reavivar a lembrança de fatos positivos que, por um motivo ou outro, mereceram ficar arquivados, mas sempre prontos a serem "colocados no meu ar" , especialmente aqueles que me fizeram curtir as melhores emoções ou dar boas risadas.

Não é por outro motivo que costumo lembrar aqui alguns fatos engraçados pois, pelo menos para mim, "rir será sempre o melhor remédio" . Mas, não é apenas o engraçado que merece ser gravado.

Uma viagem, por exemplo. A cena de viagem mais inesquecível que vivi, foi em minha primeira viagem aos Estados Unidos quando, entre outros lugares, estivemos em Reno/Nevada . Reno, no inverno americano, é uma concorrida estação de esportes de neve. Pois bem, pegamos um avião em Las Vegas e lá fomos nós. Em meio ao vôo, com o meu inglês de vigésima categoria, entendi muito aquele manjadíssimo, " senhores passageiros, benvindos a bordo, quem lhes fala é o comandante fulano de tal ... ". Daí em diante, o cara continuou a dizer uma porção de coisas e, como não entendia mais nada, me distraí . De repente, sabem o que é cento e tantos passageiros explodirem em gritos ao mesmo tempo ? Pois é, aconteceu ! Eu só não fiquei em pé na poltrona porque o cinto de segurança não deixou. A Christina, que morre de medo de avião, teve uma reação que eu não entendi logo se ela estava rindo ou chorando. Felizmente, estava rindo, e da minha cara de pavor. O comandante havia acabado de comunicar aos passageiros que estava nevando abundantemente em Reno e que as pistas de esqui já se encontravam em estado ideal para a prática dos esportes de inverno. Como pelo menos 90% dos passageiros estavam viajando justamente com o objetivo de esquiar, o delírio fez lembrar a torcida brasileira comemorando um gol da seleção numa final de Copa do Mundo. E eu, monoglota assumido, quase morri de susto !

O registro inesquecível dessa viagem, não foi esse, porém. O que jamais vou poder esquecer é a cena que vi do trigésimo e não sei quantos andares do hotel, onde ficava o nosso apartamento. Eu estava maravilhado, pois era a primeira vez que tinha contato pessoal com a neve, e a cidade estava literalmente branca, uma coisa linda. O nosso quarto não tinha janela. Você abria uma grossa cortina, que ia do chão ao teto, parede a parede e se deparava, do lado de fora do vidro, com um cenário de filme americano de natal : já era noite e só se via neve, neve, muita neve e, a uns cem ou duzentos metros de nós, a estação ferroviária local, bem iluminada, mas com jeitão de antigamente e um trem sendo lentamente carregado por containers levados por uns camaradas devidamente encapotados e usando botas.

Aquela cena, aos meus olhos, era surrealista e de uma beleza indescritível, nada tinha a ver com o meu cotidiano. Ficamos ali parados, vivendo um momento mágico do qual me recordo até que a Christina estava usando um perfume com o sugestivo nome ( e aroma ) Cafè, lançamento da época.

Ainda no plano de viagem, vou enveredar agora pelo terreno da galhofa, recordando um episódio bem bobinho, mas que, talvez por me ter deixado aflito, também não esquecerei. Estavamos em Paris com os amigos Célia e Francisco ( sempre o Francisco ! ) e ele cismou que tínhamos que ir lá em cima, no Arco do Triunfo. Já havíamos passado por ali não sei quantas vezes, mas nunca a idéia de ir até lá em cima nos veio à cabeça. Fomos, vista linda para a Avenida Champs Elisée, olha dali, olha de cá, até que resolvemos ir embora. Tem uma porta grande, de vidro, dando acesso à saída. O engraçadinho do Francisco, que vinha na minha frente, passou pela porta e pimba, a fechou e deu uma volta na chave, por dentro. Eu bati no vidro e ele ficava dando adeusinho, lá de onde estava. Nisso, começou a juntar gente que como eu, queria ir embora. E, nem era com o safado ! Alguns começaram a reclamar, a confusão já começava a se formar, quando apareceu vindo lá de dentro um guarda que abriu a porta e resmungou para mim algo que entendi como sendo uma bronca "por eu ter fechado a porta" . Ora, que raiva fiquei de não poder dizer para ele : "Ô idiota, como é que eu poderia trancar essa porta por dentro, eu estando aqui fora ? " . Depois, passei aquela carraspana no Francisco mas, adiantava alguma coisa ?

Então, se existe uma coisa na vida de que não posso me queixar, é da falta de boas lembranças. Deus foi pródigo comigo nesse particular e garanto a vocês, que lamento por todos aqueles que "olham para trás" e não conseguem enxergar quase nada que considerem valer a pena rememorar .